Escrito por ANNATROTTAYARYD
Muito embora sempre tenha sido simpatizante da ideia de que menos é mais e mais é menos, em que pese alguns esforços no decorrer da vida, reconheço que nunca fui uma exímia praticante.
Então, certo dia, navegando pela internet, me deparei com o termo minimalismo, que logo me chamou a atenção.
De acordo com o dicionário Michaelis, minimalismo é a predisposição para redução e simplificação dos elementos que compõem um todo, o que já é muito interessante. Na prática, porém, ele é mais que isso.
Minimalismo é desapego. É ser capaz de retirar os excessos da sua vida e não depender de objetos, pessoas ou lugares para criar paz e felicidade. É repensar sobre os motivos pelos quais você tem ou porque quer ter certas coisas. É viver os seus próprios sonhos, que não precisam ser, e quase nunca são, os mesmos sonhos dos outros.
Minimalismo, principalmente, é adotar uma maneira mais simples de viver para reduzir o estresse, a ansiedade, e ter mais liberdade e mais tempo para o que realmente importa: você, as pessoas que você ama e viver bem.
Na verdade, ser minimalista é uma filosofia de vida e um estilo de viver, no qual você reduz suas posses de tal forma que tenha apenas itens que realmente tragam valor à sua vida.
O que não é simples, nem fácil, se pensarmos que vivemos em um mundo onde tudo e todos ao nosso redor nos fazem crer que se não consumirmos, não somos nada. Se não consumirmos não somos ninguém, porque somos apenas na medida em que formos capazes de consumir. Além disso, somos o tempo todo seduzidos pela promessa de felicidade escondida atrás do consumismo, e condicionados a acreditar que a felicidade só é verdadeiramente possível se você tiver condições de participar da orgia do consumo.
A questão é que, ao nos permitirmos ser meros consumidores, todas as nossas capacidades são postas sempre e apenas a serviço de uma maior possibilidade de consumir, o que faz com que deixemos o que realmente importa na vida para trás, tornando-a sem significado. E a vida precisa ter significado, precisa ter sentido e propósito, senão ela fica vazia e infeliz.
Compramos todo o tempo coisas que não precisamos e às vezes nem queremos, pelo simples prazer de comprar. Claro que sempre haverá alguma coisa para encantar nossos olhos, mas essa coisa não precisa necessariamente vir para nossa casa. Você pode olhar, gostar e deixar ela exatamente aonde ela está, simplesmente pela certeza de que ter mais daquilo que você não precisa, não significa ser mais feliz.
Mas desapegar é complicado. E retirar os excessos da nossa vida exige consciência, vontade, além da revisão da própria vida, da própria história e dos próprios princípios.
Por isso, ser minimalista não é externo. Não é tirar tudo da sua vida para não se preocupar com nada. É um processo interno, no qual você avalia o que não soma. Embora tenha sim um viés externo, porque quando você põe a casa em ordem, quando você organiza o seu ambiente, seja ele qual for, você também organiza suas questões e seu passado, e passa a distinguir com mais clareza o que é essencial e o que é inútil.
Minimalismo também não tem nada a ver com valor monetário, ou gastar menos dinheiro, muito menos com fazer você jogar fora todas as suas posses e se mudar para um bangalô. Mas sim com sentido e propósito de possuirmos certas coisas, e como fazermos as perguntas certas antes de tomarmos a decisão de comprar.
Trata-se, na verdade, de um tipo de consumo racional e razoável, cujo o ponto central é fazer você se perguntar por que você possui as coisas que possui, o que elas acrescentam à sua vida e se você pode viver tranquilamente sem elas. E veja que não existe certo ou errado nessa história. São escolhas que devem obedecer a um único critério: o que te faz e te deixa bem consigo mesmo e feliz.
Ou seja, ser minimalista é se livrar dos excessos para ficar livre de coisas e detalhes desnecessários, para ter mais tempo e espaço em sua vida para se dedicar à felicidade, ao amor, à amizade, e tudo aquilo que ocupa um espaço duradouro em sua vida e é verdadeiramente importante para você, o que vale para coisas, atividades, pessoas, compromissos, informação e tudo o mais que não te geram alegria nem energia.
E pensar minimalista é repensar os motivos pelos quais você tem ou por que quer ter certas coisas. É olhar para tudo que é vendido pela mídia e pensar: isso faz realmente sentido para mim? Isso vai me ajudar a alcançar meus sonhos, ou de certa forma, pode me atrasar?
Por isso é um comportamento que começa na sua cabeça e você, aos poucos, vai transportando para os seus hábitos até incorporar na sua vida.
Imagine uma vida com menos coisas, menos desordem, menos estresse e descontentamento...Agora imagine uma vida com mais tempo, mais espaço, mais diversão, mais relações significativas, mais crescimento, contribuição e contentamento, mais ordem e mais dinheiro.
Isso é minimalismo.
Se você, assim como eu, se interessou e quer saber mais sobre minimalismo, poderá assistir ao documentário “Minimalism: A Documentary About the Important Things”, disponível na Netflix, de Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus, autores que passaram uma experiência arrebatadora com o minimalismo e decidiram documentar a vida de outras pessoas que levam esse estilo de vida.
Também tem um livro muito interessante: “Menos é mais: Um guia minimalista para organizar e simplificar sua vida”, de Francine Jay (Ed. Fontanar). O best-seller americano é considerado a “bíblia” do minimalismo graças ao jeito simples e divertido que mostra como ter uma vida menos consumista e mais plena.
Outros exemplos de minimalismo você poderá encontrar dando uma olhada na cultura dos países da Escandinávia, onde essas ideias foram estabelecidas desde tempos imemoriais e são expressas não apenas em relação às coisas, mas também ao modo de pensar. Simplicidade, modéstia, atitude cuidadosa em relação à natureza são importantes bases da vida nesses países, onde as pessoas não precisam de tanta variedade.
Já tem algum tempo estabeleci que, a essa altura do campeonato, a prioridade da minha vida será viver com leveza, para poder envelhecer com leveza e me tornar interessante. E, depois de muito ler sobre o assunto, não tenho dúvida alguma, que me tornar minimalista é um meio para isso. O que tenho muita fé conseguir ser ainda nessa encarnação.
Confesso que ainda estou engatinhando, em meio a um processo de reavaliação e autoconvencimento, mas, recentemente, fiz uma viagem low cost com meu filho - daquelas que você não despacha bagagem e leva tudo numa mala de mão, que vai com você no bagageiro do avião - e, tirando o desafio inicial de colocar tudo que eu achava necessário em uma malinha pequena dessas, foi muito libertador.
Saber que posso viver bem e por muito tempo, com as coisas que cabem numa mala pequena me deu uma sensação de mobilidade e liberdade incríveis, além de ter pago muito mais barato, em todos os deslocamentos.
Então é isso.
E se cabe um conselho: ame as pessoas e use as coisas, porque o inverso não funciona. Além disso, ninguém vai comparecer ao seu funeral e dizer “ ela tinha um sofá caro e sapatos lindos”, por isso, não faça sua vida ser sobre coisas.
Fica a dica.
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