quarta-feira, 1 de março de 2017

AFINAL, A VIDA COMEÇA QUANDO?


                               escrito por ANNATROTTAYARYD
 
                  Quando eu tinha dez anos, achava que a vida começava aos quinze anos. Aos quinze, tinha certeza absoluta que era aos dezoito. Perto dos trinta, acreditei que a vida começava mesmo, para valer, a partir daí. Vivi mais um pouco e comecei a ler e ouvir que a vida começa aos quarenta. E hoje, às portas do cinquenta, tem muita gente querendo me convencer que a vida começa agora.

                    Ok, confesso que fiquei tentada a acreditar nisso, por pura conveniência, mas não consegui. Afinal, seria o mesmo que pensar que a vida não começa nunca, ou pior, que começa pra lá do meio, o que me pareceu um tanto desesperador, diante de tão curta existência.  

                    Depois, como brilhantemente definiu Veríssimo, se quarenta é a meia idade - aquela que o espírito meio que quer e a carne meio que não pode mais - e fazer cinquenta é o avesso de entrar para a Academia de Letras: você ganha uma festa e se torna um mortal, consciente, acreditar que a vida começa daí é no mínimo deprimente.

                      Além disso, se numa definição geral, vida é existência e o período que decorre entre o nascimento e a morte, seria preciso uma vida muito ruim antes dos quarenta para acreditar que o que vem depois vai ser tão melhor assim a ponto de se tornar a vida inteira.

                    Donde se conclui que a vida só pode ser boa mesmo aos quarenta ou depois deles, se você aprendeu alguma coisa com todos os tropeços e quedas do meio.                  

                    Porque é no meio que a gente entende que a vida é feita de pequenas vitórias. Que o importante na vida é viver um dia de cada vez. E que a vida tem razões que a própria razão desconhece.

                    No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. E que o que a gente leva dessa vida é só a vida que a gente leva.

                    É, no meio, que a gente aprende que é preciso muita coragem para se revelar imperfeita, mas inteira. Que a beleza está nos olhos de quem vê. Que envelhecer é duro, mas é a melhor opção. E que só a amizade e o bom humor rejuvenescem.  

                    E aprende que nessa vida, tudo aquilo que não nos mata nos fortalece, e que harmonizar o que fazemos, com o que sentimos e pensamos, é um desafio que leva uma vida inteira, esse meio todo.

                    Por isso, não precisamos ter medo de chegar aos 30, nem aos 40, 50... Muito menos nos auto afirmar acreditando que a vida começa agora.

                    Vida é o que está acontecendo agora, seja lá o que for. É tudo aquilo que temos e o que fazemos dela, com um pouco de tudo, em qualquer idade, num movimento contínuo de inúmeras possibilidades para criarmos a melhor vida possível e nos reinventarmos sempre.

                              Por isso, fico mesmo é com Mário Quintana, que no auge de sua sensibilidade e sabedoria disse que "existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa".                

                              E vou seguindo em frente, muito agradecida por ainda estar aqui.

 

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