escrito por ANNATROTTAYARYD
Quando
eu tinha dez anos, achava que a vida começava aos quinze anos. Aos quinze,
tinha certeza absoluta que era aos dezoito. Perto dos trinta, acreditei que a
vida começava mesmo, para valer, a partir daí. Vivi mais um pouco e comecei a
ler e ouvir que a vida começa aos quarenta. E hoje, às portas do cinquenta, tem
muita gente querendo me convencer que a vida começa agora.
Ok, confesso que fiquei
tentada a acreditar nisso, por pura conveniência, mas não consegui. Afinal, seria
o mesmo que pensar que a vida não começa nunca, ou pior, que começa pra lá do
meio, o que me pareceu um tanto desesperador, diante de tão curta existência.
Depois,
como brilhantemente definiu Veríssimo, se quarenta é a meia idade - aquela que o
espírito meio que quer e a carne meio que não pode mais - e fazer cinquenta é o
avesso de entrar para a Academia de Letras: você ganha uma festa e se torna um
mortal, consciente, acreditar que a vida começa daí é no mínimo
deprimente.
Além
disso, se numa definição geral, vida é existência e o período que decorre entre
o nascimento e a morte, seria preciso uma vida muito ruim antes dos quarenta
para acreditar que o que vem depois vai ser tão melhor assim a ponto de se
tornar a vida inteira.
Donde
se conclui que a vida só pode ser boa mesmo aos quarenta ou depois deles, se
você aprendeu alguma coisa com todos os tropeços e quedas do meio.
Porque
é no meio que a gente entende que a vida é feita de pequenas vitórias. Que o
importante na vida é viver um dia de cada vez. E que a vida tem razões que a
própria razão desconhece.
No
meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para
resolvê-lo. Que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. E que o que a
gente leva dessa vida é só a vida que a gente leva.
É, no meio, que a gente aprende que é
preciso muita coragem para se revelar imperfeita, mas inteira. Que a beleza
está nos olhos de quem vê. Que envelhecer é duro, mas é a melhor opção. E que
só a amizade e o bom humor rejuvenescem.
E
aprende que nessa vida, tudo aquilo que não nos mata nos fortalece, e que
harmonizar o que fazemos, com o que sentimos e pensamos, é um desafio que leva
uma vida inteira, esse meio todo.
Por
isso, não precisamos ter medo de chegar aos 30, nem aos 40, 50... Muito menos
nos auto afirmar acreditando que a vida começa agora.
Vida
é o que está acontecendo agora, seja lá o que for. É tudo aquilo que temos e o
que fazemos dela, com um pouco de tudo, em qualquer idade, num movimento
contínuo de inúmeras possibilidades para criarmos a melhor vida possível e nos
reinventarmos sempre.
Por
isso, fico mesmo é com Mário Quintana, que no auge de sua sensibilidade e
sabedoria disse que "existe somente uma idade para a gente
ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e
fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as
dificuldades e obstáculos. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e
viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa
de sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à
nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com
todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores
sem preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é
mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo
novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na
vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa".
E vou seguindo em
frente, muito agradecida por ainda estar aqui.
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