Quando somos criança, costumamos pensar que ser
corajoso é não ter medo. Grande bobagem!!!
O medo é inerente ao homem e também
aos animais irracionais. Assim, todo mundo nessa vida tem medo, inclusive os
corajosos. E por diversas razões. É uma pena que não nos expliquem isso antes.
Segundo
a Wikipédia “o medo é uma sensação que proporciona um estado de
alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir
ameaçado, tanto física como psicologicamente.
É também uma
reação obtida a partir do contato com algum estímulo físico ou mental (interpretação,
imaginação, crença) que gera
uma resposta de alerta no organismo. Esta reação inicial dispara uma resposta
fisiológica no organismo que libera hormônios do estresse (adrenalina, cortisol)
preparando o indivíduo para lutar ou fugir.
O medo começa
na ansiedade e termina no pavor. E pode se transformar em doença, quando vira
uma fobia.”
Conheço
muita gente que teme fantasmas, almas do outro mundo, saci pererê, assombração,
satanás, alma penada e tantos outros fenômenos sobrenaturais. Confesso, já tive
medo disso também, um dia.
Hoje, porém,
tenho medo mesmo é de gente viva. Tenho medo da falta de humanidade. Das
instabilidades das gentes. Da falta de diálogo, do extremismo e da
intolerância. Tenho medo de quem promove o medo como forma de correção ou
coação. E dos políticos que votam por Deus e exclusivamente por suas famílias, sem
se preocupar com o interesse público e o bem-estar de todos.
Também
tenho medo que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo me impeça de
tentar. Tenho medo de errar.
Até a natureza,
tão venerada por ecologistas e ambientalistas me dá medo. Principalmente quando
me lembro do Katrina, do tsunami na Indonésia, dos terremotos do Chile e do
Japão. Que medo!!!
Também tenho medo do futuro, onde a água não
exista mais. Do futuro em que a gente desembale mais do que descasque coisas
para comer. E do futuro para jovens meninas, por não ver o futuro prosperar em
defesa delas na velocidade necessária.
Tenho
medo das incertezas do caminho. Da minha bondade se esvair na ingratidão e no
egoísmo alheio. De não saber mais discernir o certo do errado neste mundo de
valores cada vez mais confusos.
Tenho
muito medo da insegurança das ruas, do desconhecido, do imprevisto, do
imprevisível e da morte, então... nem se fale!!!
E
tenho mais um montão de medos, que demoraria dias para relacionar aqui. Ou
seja, medo é o que não me falta.
Mas,
sinceramente?! Mesmo com tantos medos, não me sinto uma covarde. Acho que
porque, hoje, sei que toda coragem precisa do medo para existir e talvez
também tenha aprendido, de alguma forma, que o medo tem validade objetiva. Se
com medo tornarmo-nos covardes, sem medo tornarmo-nos temerários. Por isso, podemos
sim usar os nossos medos de forma benéfica e a nosso favor. E se fizermos isso,
ele não será um defeito, muito menos algo negativo.
Quando alguém
sente medo é porque há, ou pode haver, alguma ameaça. Assim, sentir medo é não
só aceitável, mas algo razoável e desejável. Em certa medida, o medo pode até
proteger. O problema está apenas quando ele ultrapassa a medida do aceitável e
se transforma em medo exagerado, que nos paralisa. Esse sim não é nada bom, porque
paralisados, anulamos completamente nossa capacidade de viver e conviver. E a
vida é puro movimento.
Pesquisando
sobre o medo, percebi que durante a história, poucas vezes os filósofos se
ocuparam dele. Thomas Hobbes, filósofo do século XVII, e que tornou famosa a
frase “o homem é o lobo do homem”, foi um dos poucos a pensar o medo como um
sentimento manipulável que estaria na base da fundação do estado social.
Hobbes viveu
em tempos conturbados para a coroa de seu país, e suas ideias tinham muito a
ver com a clima de incertezas que marcou aquela época, onde o movimento
liberal, que defendia a redução do poder da realeza, vinha ganhando cada vez
mais força.
Contrariando
outros filósofos políticos e o anseio revolucionário da época, ele acreditava
que o homem não possui uma disposição natural para a vida em sociedade, na
verdade, possui sim, uma natureza regida pelo egoísmo e pela autopreservação.
Esse instinto
abriria caminho para a violência contra o próximo, ao mesmo tempo em que nos
obrigaria a buscar uma “paz” comum que nos desse segurança, representada pelo
contrato social. Ou seja, a autoridade política teria a função específica de
proteger os homens uns dos outros. Sem medo não haveria governabilidade, mas o
governo deveria justamente tornar a vida das pessoas livre do medo.
Essa teoria de Hobbes explicaria a função do
governo e, por outro lado, a obediência dos homens às leis que viriam regular
as relações humanas, sempre perturbadas pelo medo que os homens têm dos
próprios homens.
Mas
também pude constatar que, na verdade, somos convocados a sentir medo o tempo
todo.
Bancos
e empresas de seguro, por exemplo, usam esse argumento abertamente. Políticos
espalham temores para arrebanhar votos, jornalistas faturam em cima de
catástrofes, biólogos citam vírus letais quando querem obter fundos para
desenvolver vacinas, e por aí vai.
Até
a moda e o grande e glorioso marketing se utilizam dele, só que usam mensagens
mais sutis. Como nos explica o publicitário dinamarquês Martin Lindstrom, ela “joga
com o medo de não pertencermos ao grupo”. "O desodorante traz outro medo,
de que você não vai conseguir namorada com seu cheiro. A mesma lógica vale para
xampus, branqueadores de dente e academias de ginástica. Afinal, malhamos para
estar saudáveis, ou por medo de ficar flácidos?", questiona Lindstrom.
Na
verdade, boa parte da propaganda explora o medo da rejeição social. E esse medo
nunca foi tão forte.
E é interessante, que todo mundo propaga o
medo. Não necessariamente por maldade ou interesse próprio. "Se eu disser
que há uma doença mortal se espalhando na sala onde você está, você sairá dela
mesmo sem saber se é verdade. E vai avisar as outras pessoas", diz
Lindstrom.
Com tudo
isso, não é de se estranhar que o medo tenha se tornado o maior problema
psicológico do nosso tempo, virando parte do dia a dia de todo mundo.
Segundo
dados do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, 20,8% das pessoas têm
transtorno de ansiedade, ou seja, passam o tempo inteiro com medo de alguma
coisa (pois a ansiedade nada mais é do que medo antecipado, de algo que pode ou
não ocorrer).
Mas,
será que ter medo é tão ruim? Afinal, se olharmos sob outro ângulo, é ele que,
de uma maneira ou de outra, nos move todos os dias para alguma direção.
A questão é que, em uma sociedade que perde o sentido dos
sentimentos diariamente, o medo se torna mais um destes nomes para uma
diversidade de sensações inespecíficas, e não há uniforme especial, máscaras ou
abrigos plásticos que possam nos proteger dele. Só nós mesmos podemos nos
proteger dos nossos próprios medos.
O
medo, assim como a dor, tem um objetivo. É um chamado para mudar
de atitude, comportamento ou pensamento, para acordarmos e nos conhecermos
melhor. Ele pode nos ajudar a entender mais sobre nossas deficiências e nos
forçar a encarar a realidade, o que, na verdade, é um grande presente. E admiti-lo,
certamente, é o primeiro passo.
Como
nos resume Aaron T. Beck, psiquiatra norte-americano e professor emérito do
departamento de psiquiatria na Universidade da Pensilvânia, conhecido como pai
da Terapia Cognitiva, no livro The Anxiety and Worry Workbook
("O Manual da Ansiedade e da Preocupação", inédito no Brasil), "A
forma como pensamos influencia a maneira como sentimos. Portanto, mudar o modo
como pensamos pode mudar como nos sentimos", pode parecer banal, mas
funciona e tem efeitos neurologicamente comprovados.
Por exemplo:
se você vai a uma entrevista de emprego e fica pensando que podem te fazer
perguntas que você não sabe responder, ficará ansioso e com medo. Entretanto,
se pensar que está muito bem preparado, isso certamente lhe trará tranquilidade
e segurança.
Para
Izabel Telles, terapeuta holística e sensitiva formada pelo American
Institute for Mental Imagery de Nova Iorque, “não dá para interromper os
estímulos e os acontecimentos que o mundo gera, mas podemos aprender a
controlar a nossa fábrica de imagens, revertendo os hologramas aterradores,
assustadores e monstruosos que a mente pode vir a criar. A neurologista
Katherina Hauner, por sua vez, acredita que a exposição gradual da pessoa ao
objeto ameaçador ajuda a superá-lo.
O admirável Franklin D. Roosevelt, no seu
discurso de posse, em 1933, declarou acreditar firmemente que ""a
única coisa que temos a temer é o próprio medo".
E de fato:
nunca sentimos tanto medo e nunca tivemos tanto medo dele, e talvez seja mesmo
essa a chave do problema e também sua grande solução. Perder o medo do medo.
Há pouco tempo,
soube que uma grande e querida amiga está com metastase e terá que enfrentar um
tratamento bastante difícil para lutar pela vida, e fiquei com muito medo. Por ela e por mim. Ser
confrontada com a incerteza do futuro é assustador!!!
Então,
passeando pelos jardins da minha memória, me lembrei da minha mãe, que na minha
opinião, foi a pessoa mais corajosa que conheci, e também do dia em que disse
isso a ela, e ela me respondeu: - Não sou corajosa, filha. Apenas estava num barco
que naufragou, e tive que sair nadando. Foi
nesse dia em que aprendi o verdadeiro significado de coragem.
Por
tudo isso, esse post é uma singela homenagem
à minha mãe e à todos os grandes nadadores da vida que conheci, que naufragaram
e continuaram nadando, nadando e nadando...até o fim.
À minha
amiga, desejo com todas as minhas forças e meu coração, que ela continue sendo esse
Michael Pelphes que ela é, e que ainda ganhe muitas e muitas outras medalhas,
na sua vida afora. Até o fim.
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