Ainda bem, na vida, todo mundo tem
lá os seus mestres. Aquelas pessoas inesquecíveis e extraordinárias que te
fazem bem, dizem a coisa certa na hora certa e servem de grande exemplo e fonte
de inspiração, sabe? Pois é. Eu tive a sorte de ter vários, e foi exatamente um
deles quem me contou essa história.
Nós trabalhávamos juntos e eu sempre
o importunava. Entrava em sua sala e ia logo perguntado: - Ocupado? Ao que ele
sempre me respondia, com aquele jeito introspectivo e sério: - Tanto quanto
você.
Achava
aquela resposta simplesmente o máximo, digna dos grandes sábios, e sempre me
deliciava. Então ele imediatamente parava o que estivesse fazendo para me ouvir
e eu ganhava o dia, me sentindo a importante. Jamais me esquecerei.
Mas
voltando à história do macaco, foi num desses dias, quando eu cheguei meio
esbaforida e completamente pessimista com alguma coisa que não lembro bem o que
era, que de repente ele me perguntou:
- Anna, você já
ouviu a história do macaco?
MA-CA-CO?!
Pensei com meus botões. Até hoje fico imaginando a minha cara. Mas vindo de
quem vinha me limitei a responder:
-Não.
- Então sente-se,
disse ele. E começou:
Certo
dia, João, que morava em um sítio distante da cidade, saiu com seu carro para ir
comprar mantimentos no centro. Quando já estava no meio do caminho, em plena
estrada de terra, percebeu que o pneu do carro havia furado. Saiu do carro,
abriu o porta-malas para pegar o macaco para poder trocar o pneu, e nada. Estava
sem ele.
Ah! É esse macaco, pensei novamente
com meus botões.
João olhou para um lado, olhou para
o outro e nada. Nenhum sinal de vida. Resolveu sentar no acostamento e esperar
um pouco para ver se aparecia uma boa alma, mas nada. Ninguém apareceu.
Então, levantou-se e olhando ao
redor, lá longe, bem distante, viu uma fumacinha e, como onde há fumaça há fogo
e onde há fogo, geralmente há gente, resolveu caminhar naquela direção.
Andou, andou e andou. E já estava
bem suado quando percebeu que aquela era a casa do Paulão, um chato de plantão,
mal humorado, que conhecia só de vista, porque o infeliz não cumprimentava,
muito menos conversava com ninguém. Com tal constatação, não pode deixar de
exclamar:
- PQP!!! Que azar.
Justo esse chato?! Só me faltava essa.
Que
Paulão tinha carro e consequentemente macaco, disso ele tinha certeza, mas
aquele grosso era bem capaz de não querer emprestar o macaco.
- E se eu pedir o
macaco e ele me disser que não tem? Afinal, chato que é chato não ajuda, só
atrapalha. Mas que ele tem macaco, ele tem.
E enquanto andava pensava e enquanto
pensava andava e falava consigo mesmo:
- Tudo bem. Eu chego lá, peço o macaco e digo
que depois eu devolvo. Ele não tem motivo para não me emprestar. Mas do jeito
que ele é, é bem capaz de fechar a porta na minha cara. Ah, se o Paulão fizer
isso!!! Era só o que me faltava, andar tudo isso para nada. Tudo bem, vou pedir
o macaco na maior educação e não vai ter erro. Será?
E quanto mais perto da casa de Paulão chegava,
mais agitado e nervoso ficava:
- Se esse cara não
quiser me emprestar o macaco ele vai ver só. Chato tudo bem, eu já sei que ele
é, mas não me emprestar o macaco já é demais. Um egoísta esse Paulão, isso sim.
Babaca! Se ele não quiser me emprestar, pego o macaco na força. Mas e eu lá sei
onde ele guarda o macaco?!
Andou mais um pouco, pensou e
esbravejou bastante até que finalmente chegou na casa do Paulão. Encheu-se de
coragem, bateu na porta e quando Paulão atendeu, foi logo dizendo:
- Paulão, é o
seguinte, enfia o macaco no #&. Virou as costas e foi embora.
Nem preciso dizer que caí na risada
e demos boas gargalhadas. Quando voltei para minha sala, fiquei pensando
quantas vezes e com quantos “Paulões” já tinha feito exatamente isso, e para
minha tristeza, pude concluir que com vários. Bem mais do que gostaria. Acho
que até mesmo com o meu marido!!!
Tudo bem que de lá para cá continuo
ouvindo não das pessoas, mas posso garantir que agora eu realmente pergunto antes.
Bem, nem preciso falar que todo
mundo na minha casa já conhece a história do macaco, e vira e mexe a gente se
lembra, em alguma história ou assunto:
- Olha o macaco!!!!
Figuraça esse meu mestre, né?
0 comentários
Postar um comentário