quarta-feira, 13 de novembro de 2013

YAYOI KUSAMA: A PRINCESA DAS BOLINHAS


            Loucura e arte não caminham necessariamente juntas, mas sem sombra de dúvidas, em determinadas circunstâncias transtornos mentais podem abrir caminhos inusitados para a criatividade. É justamente o caso da japonesa Yayoi Kusama, de 84 anos, considerada um dos maiores nomes da arte contemporânea e também um ícone da moda.
            Nascida em 1929, em Matsumoto-shi, desde sempre Yayoi sofreu com alucinações, sendo diagnosticada esquizofrênica. Com uma história de vida sofrida, cheia de altos e baixos, marcada por muita rejeição, até mesmo da própria mãe que nunca aceitou o seu lado artístico e suas diferenças, ela fez da arte sua rota de fuga da realidade e conseguiu com ela, se comunicar com o mundo e mostrar às pessoas como é o mundo que ela enxerga. 
            Como ela mesma diz: “Minha arte é expressão da minha vida, sobretudo da minha doença mental, originária das alucinações que eu posso ver. Traduzo as alucinações e imagens obsessivas que me atormentam em esculturas e pinturas.” 
            Conhecida como “A Princesa das Bolinhas”, Yayoi transpõe para telas, roupas, vídeos, esculturas e até para corpos nus as formas e cores psicodélicas que enxerga em seu mundo. Seu trabalho funciona como uma forma de evitar o suicídio e mantê-la viva. 
            Até hoje, por vontade própria, Yayoi vive em um Hospital Psiquiátrico, em Tóquio, onde está internada desde 1977, e usa seu apartamento, que fica  há poucos minutos do Hospital, como ateliê para sua mente inquieta e sem limites.
             Tendo trabalhado ao lado de grandes nomes da Arte Moderna e Contemporânea como Andy Warhol, Joseph Cornell e Donald Judd, a artista logo passou a liderar o movimento da vanguarda. Participou de diversas exposições de arte a céu aberto no Central Park e Brooklyn Bridge, muitas vezes envolvendo nudez. Engajou-se numa campanha contra a guerra do Vietnã e é uma grande simpatizante na luta dos homossexuais por seus direitos na sociedade.
            Yayoi também realizou uma parceria com a Louis Vuitton. Uma ideia que surgiu durante uma viagem da equipe de estilo da maison à Tóquio, quando Marc Jacobs se sentiu atraído pela energia interminável da “rainha dos polka dots”.
             A coleção, intitulada de Infinitely Kusama“, contou com roupas, bolsas, sapatos e outros acessórios com a icônica estampa.













            Além disso, a tradicional e divertida estampa de bolinha, também serviu de inspiração para a criação, também por Marc Jacobs, do DOT - perfume com fragrância tão criativa quanto o frasco, com topo de espumante de frutas vermelhas e Dragon Fruit, assinatura floral no coração de jasmim e base de baunilha e almíscar. Simplesmente um charme, não é mesmo!!!
            Atualmente, Yayoi figura como a terceira artista mulher que mais ganhou dinheiro com seu trabalho (atrás apenas das americanas Joan Mitchell e Mary Cassatt), tendo faturado ao longo da vida cerca de US$ 127,7 milhões.
 Feminista, moderna e revolucionária por natureza, sem dúvida alguma trata-se de uma mulher à frente do seu tempo. Aliás,  uma pessoa que faz toda a diferença, não só por discutir publicamente sua doença mental, mas principalmente por nos mostrar o humano atrás da doença e novas formas de ver o mundo sem as amarras convencionais, através da única linguagem universal que nos permite entender e tolerar o diferente: a arte.
              Por tudo isso, fiquei imensamente feliz ao saber que a mostra “Obsessão Infinita“, recorde de público no Malba, em Buenos Aires – onde ficou em cartaz por mais de dois meses – finalmente chegou ao Brasil, marcando a estreia de Yayoi Kusama no nosso país.
              Atualmente em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro, a expo traz  uma retrospectiva de 100 trabalhos realizados pela japonesa entre os anos de 1949 e 2012. São pinturas, esculturas, vídeos, apresentação de slides e instalações de deixar qualquer um de boca aberta.
             Produzida pelo Instituto Tomie Ohtake, em parceria com o estúdio da artista, e com curadoria de Philip Larratt-Smith e Frances Morris, como não poderia deixar de ser, a exposição tem como marca registrada as famosas bolinhas, em diversas cores, tamanhos e estilos. E dentre os maiores destaques está um de seus trabalhos seminais, o “Campo de falos” — um jardim de falos decorados com bolas vermelhas e brancas numa sala espelhada.
            Outro destaque é a instalação “Cheia de brilho da vida”, em que as bolinhas aparecem na forma de lâmpadas que se acendem e apagam em cores diferentes. E o público também é chamado a participar da obsessão da artista, recebendo, logo na entrada, uma cartela de adesivos, todos de bolas coloridas, para decorar outra instalação, a “Sala da obliteração”, originalmente toda em branco. Também poderá ser vista na exposição uma das suas mais celebradas séries, a “Infinity net” (“Rede infinita”), realizada em 1950. E, ao final, 36 telas gigantescas pintadas entre 2012 e 2013 mostram que a artista continua trabalhando com afinco em seu ateliê, dentro da instituição psiquiátrica em que vive. 
             A exposição permanecerá no Rio até 26 de janeiro de 2014, no Centro Cultural Banco do Brasil, que fica na Rua Primeiro de Março, 66 – Centro. Com entrada franca!     E passará por Brasília e São Paulo:  de 17/02/2014 a 27/04/2014 - Centro Cultutal Banco do Brasil, Brasília; e  de 21/05/2014 a 27/07/2014 - Instituto Tomie Ohtake, São Paulo.

            Simplesmente imperdível!!!

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