Enquanto
grande parte dos apaixonados por viagens gostam de conhecer lugares que estão
em alta e são verdadeiros ‘points’ da turma mais descolada, alguns poucos preferem
lançar-se ao desconhecido.
Esse é
exatamente o caso de Jimmy Nelson, um maravilhoso fotógrafo britânico que se tornou
conhecido em 1987 quando, após passar 10 anos em um internato jesuíta ao norte
da Inglaterra, decidiu cruzar o Tibete a pé. A viagem durou um ano e seus
registros dela fizeram um enorme sucesso. Depois disso, ele cobriu histórias na
Rússia e no Afeganistão e conflitos em curso como as tensões entre a Índia e o
Paquistão e o início da guerra na ex-Iugoslávia.
Em
2009, dando início a mais um de seus ambiciosos projetos, Jimmy Nelson visitou 44 países, desde o Deserto da
Namíbia às quase inacessíveis ilhas da Oceania para encontrar lugares inóspitos como a
região montanhosa de Bayan Olgii, na Mongólia, o Vale Baliem, da Papua Nova
Guiné, e as partes mais selvagens do sul da Etiópia. Também visitou a Indonésia,
o Quênia, a Tanzânia, Nova Zelândia, Mongólia, Sibéria, e Nepal, onde clicou
35 tribos que, esteticamente falando, são
fascinantes, mas na realidade, lutam pela sobrevivência nesses lugares
remotos.
Uma das curiosas tribos fotografadas foi a Mursi, na Etiópia, onde as mulheres usam placas de argila em seus lábios inferiores, um hábito que acredita-se, foi inventado para tornar as mulheres menos atraentes para os comerciantes de escravos.
Conta o fotógrafo que para apenas
uma foto chegou a demorar três horas entre planejamento e execução. Sem contar
o tempo de aproximação, a fim de incorporar os costumes e ser aceito pelos
grupos, tornando-se amigo das tribos antes de sacar a câmera. Simplesmente incrível, não é mesmo.
Fico pensando e tentando imaginar esse de trás das fotos, mas minha sensação é de que não chego nem perto do que tudo isso significa. Como vocês poderão ver, os registros são cuidadosamente
realizados com aspectos da natureza que os cerca e de suas tradições. De resto, as fotos falam por si mesmas.
"O mundo está mudando e nós não temos
como parar com isso. Mas espero que, ao meu modo, possa incentivar as pessoas a não abandonar tudo o que as torna tão individual", diz o britânico. Um detalhe que
ele ressalta é que, enquanto todas as tribos que encontrou eram completamente
diferentes em termos de aparência, as semelhanças eram evidentes. "Do ponto de vista social, eles eram iguais. Quanto mais longe você
ficar da civilização, mais as pessoas trabalham como uma união familiar. Eles
têm o maior respeito pelas gerações mais velhas e um com o outro.
Quanto mais longe você for do mundo urbano, mais as pessoas são amáveis.“
“Eu queria testemunhar suas tradições
consagradas pelo tempo, me juntar em seus rituais e descobrir como o resto do
mundo está ameaçando mudar seu modo de vida para sempre. Mais importante, eu
queria criar um documento fotográfico estético ambicioso que resistisse ao
teste do tempo. Um corpo de trabalho que seria um registro etnográfico
insubstituível de um mundo desaparecendo rapidamente. Retratos elegantes e
evocativos, criados com uma câmera. Mostrar uma vista extraordinária sobre a
vida emocional e espiritual dos últimos povos indígenas do mundo. Ao mesmo
tempo, seria glorificar sua variável e única criatividade cultural, com os
rostos pintados, corpos escarificados, jóias, penteados, línguas e rituais
extravagantes.“
Tudo isso foi
registrado no livro “Before They Pass Away” - vendido na Amazon - cujo objetivo é justamente
eternizar em imagens essas tribos que, ameaçadas pelo progresso padronizador do
homem ocidental, estão condenadas a desaparecerem. Sua intenção é fazer com que
a sociedade não se esqueça dessas pessoas, que mostram como o mundo costumava
ser.
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O
próximo projeto de Jimmy Nelson é clicar mais 35 povos. Dessa vez, nas áreas
mais politicamente instáveis do mundo, o que considera mais difícil pois, como fotógrafo,
terá de obter permissão especial das autoridades para ter acesso local. Ele garante
que “não vai desistir”.
Vou ficar torcendo para que ele
consiga.
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