quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

ANTES QUE ELES DESAPAREÇAM

          Enquanto grande parte dos apaixonados por viagens gostam de conhecer lugares que estão em alta e são verdadeiros ‘points’ da turma mais descolada, alguns poucos preferem lançar-se ao desconhecido.
          Esse é exatamente o caso de Jimmy Nelson, um maravilhoso fotógrafo britânico que se tornou conhecido em 1987 quando, após passar 10 anos em um internato jesuíta ao norte da Inglaterra, decidiu cruzar o Tibete a pé. A viagem durou um ano e seus registros dela fizeram um enorme sucesso. Depois disso, ele cobriu histórias na Rússia e no Afeganistão e conflitos em curso como as tensões entre a Índia e o Paquistão e o início da guerra na ex-Iugoslávia.
Em 2009, dando início a mais um de seus ambiciosos projetos, Jimmy Nelson visitou 44 países, desde o Deserto da Namíbia às quase inacessíveis ilhas da Oceania para encontrar lugares inóspitos como a região montanhosa de Bayan Olgii, na Mongólia, o Vale Baliem, da Papua Nova Guiné, e as partes mais selvagens do sul da Etiópia. Também visitou a Indonésia, o Quênia, a Tanzânia, Nova Zelândia, Mongólia, Sibéria, e Nepal, onde clicou 35 tribos que, esteticamente falando, são fascinantes, mas na realidade, lutam pela sobrevivência nesses lugares remotos.
Uma das curiosas tribos fotografadas foi a Mursi, na Etiópia, onde as mulheres usam placas de argila em seus lábios inferiores, um hábito que acredita-se, foi inventado para tornar as mulheres menos atraentes para os comerciantes de escravos.
           Já as imagens da tribo neozelandesa Maori, cujas origens podem ser rastreadas até o século 13, com a mítica pátria Hawaiki na Polinésia Oriental, nos faz sentir toda a força e importância do trabalho. Essa tribo sobreviveu, isolada, estabelecendo uma sociedade distinta, com arte, linguagem e mitologia caracterísiticas.
                                  
             Conta o fotógrafo que para apenas uma foto chegou a demorar três horas entre planejamento e execução. Sem contar o tempo de aproximação, a fim de incorporar os costumes e ser aceito pelos grupos, tornando-se amigo das tribos antes de sacar a câmera. Simplesmente incrível, não é mesmo.
             Fico pensando e tentando imaginar esse de trás das fotos, mas minha sensação é de que não chego nem perto do que tudo isso significa. Como vocês poderão ver, os registros são cuidadosamente realizados com aspectos da natureza que os cerca e de suas tradições. De resto, as fotos falam por si mesmas.
                                                        Banna-Etiópia
             "O mundo está mudando e nós não temos como parar com isso. Mas espero que, ao meu modo, possa incentivar as pessoas a não abandonar tudo o que as torna tão individual", diz o britânico. Um detalhe que ele ressalta é que, enquanto todas as tribos que encontrou eram completamente diferentes em termos de aparência, as semelhanças eram evidentes. "Do ponto de vista social, eles eram iguais. Quanto mais longe você ficar da civilização, mais as pessoas trabalham como uma união familiar. Eles têm o maior respeito pelas gerações mais velhas e um com o outro. Quanto mais longe você for do mundo urbano, mais as pessoas são amáveis.“


            “Eu queria testemunhar suas tradições consagradas pelo tempo, me juntar em seus rituais e descobrir como o resto do mundo está ameaçando mudar seu modo de vida para sempre. Mais importante, eu queria criar um documento fotográfico estético ambicioso que resistisse ao teste do tempo. Um corpo de trabalho que seria um registro etnográfico insubstituível de um mundo desaparecendo rapidamente. Retratos elegantes e evocativos, criados com uma câmera. Mostrar uma vista extraordinária sobre a vida emocional e espiritual dos últimos povos indígenas do mundo. Ao mesmo tempo, seria glorificar sua variável e única criatividade cultural, com os rostos pintados, corpos escarificados, jóias, penteados, línguas e rituais extravagantes.“
           
 






            
                      
              Tudo isso foi registrado no livro “Before They Pass Away” -  vendido na Amazon - cujo objetivo é justamente eternizar em imagens essas tribos que, ameaçadas pelo progresso padronizador do homem ocidental, estão condenadas a desaparecerem. Sua intenção é fazer com que a sociedade não se esqueça dessas pessoas, que mostram como o mundo costumava ser.
                      
            O próximo projeto de Jimmy Nelson é clicar mais 35 povos. Dessa vez, nas áreas mais politicamente instáveis do mundo, o que considera mais difícil pois, como fotógrafo, terá de obter permissão especial das autoridades para ter acesso local. Ele garante que “não vai desistir”.
            Vou ficar torcendo para que ele consiga.











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