segunda-feira, 22 de julho de 2013

IDEIAS INCRÍVEIS E SENSÍVEIS

        Você já ouviu falar a respeito da publicação de um dicionário com verbetes, publicado por um professor colombiano que passou dez anos coletando definições de seus alunos?
       Apesar de lançado originalmente em 1999, o livro foi reeditado neste ano. Javier Naranjo, o autor, conta que compilou as informações enquanto trabalhava como professor em diferentes escolas do estado de Antioquía, região rural do leste do país. A ideia, segundo ele, surgiu quando, em uma comemoração do Dia das Crianças, ele pediu que seus alunos definissem a palavra “criança”.
        O resultado o encantou – uma das definições era “uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não toma rum e vai dormir mais cedo”. A partir de então foram surgindo novas definições, que eram sempre anotadas e guardadas. Para ele, as crianças têm uma lógica diferente, uma maneira própria de entender o mundo e de revelar muitas coisas que os adultos já esqueceram.
        O livro se chama “Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças”, que tem como parte dele esse dicionário feito por crianças, que traz cerca de 500 definições para 133 palavras, de A a Z. Foi um dos maiores sucessos na Feira do Livro de Bogotá.




E é assim que no peculiar dicionário, o adulto é:


A Lua:

Água é uma “transparência que se pode tomar”, um camponês “não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos” e a Colômbia é “uma partida de futebol.”
  





Esse é o professor com algumas de suas crianças.




Veja abaixo, mais alguns verbetes  interessantes:
Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma
(Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz Arbeláez, 9 anos)
Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)
Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
       Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)
Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)
Guerra: Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz
(Juan Carlos Mejía, 11 anos)
Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)
Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)
Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)
Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)
Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)
Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)
Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)

  Só mesmo crianças para criar esses verbetes ao mesmo trempo puros, lógicos e tão reais!!!!  Tudo isso me fez lembrar de uma linda história contada pelo Dr. Rogério Brandão, médico oncologista clínico do Recife, Boa Vista - htpp://www.criançacomcancer.com.br/ originária de sua experiência como médico, onde uma criança define saudade, que conta assim:


  “Dizem que a dor é quem ensina a gemer. Não conhecemos nossa verdadeira dimensão, até que, pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além. Descobrimos uma força mágica que nos ergue, nos anima, e não raro, nos descobrimos confortando aqueles que vieram para nos confortar.
  Um dia, um anjo passou por mim…

  Meu anjo veio na forma de uma linda criança de onze anos, calejada por dois longos anos de tratamentos, hospitais, exames, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia.



 Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
 Meu anjo respondeu:

- Tio - disse-me ela - às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer. Eu não nasci para esta vida!



 Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?

- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?



  Imediatamente me lembrei das minhas filhas, que quando crianças costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim e respondi:
- É isso mesmo, e então?

  Vou explicar o que acontece, continuou ela:



- Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!


- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
  Sem saber o que dizer, limitei-me a ficar parado, boquiaberto com o pensamento deste anjinho e sua maturidade, que o sofrimento acelerou, impressionado com sua visão e grande espiritualidade.


- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
  Extremamente emocionado, e fazendo força para conter uma lágrima perguntei:


- E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!”

 Simplesmente sensacional, não é mesmo? Decididamente, temos muito que aprender com nossas crianças, pena que às vezes nos esquecemos disso.



    Uma ótima semana


0 comentários

Postar um comentário