Você sabia que nem sempre os contos de fadas
foram recheados de magia e encantamento? Isso mesmo. Nas versões originais,
muitos deles pareciam mais histórias de terror, dignas de pesadelos. João e Maria, por exemplo, além de
serem abandonados pelos pais por falta de condições para criá-los, passaram fome
e tiveram os olhos devorados pelos animais da floresta. Em, A Bela Adormecida, a linda e vulnerável
princesa foi estuprada pelo príncipe e gerou o filho enquanto dormia. Já a doce
Chapeuzinho Vermelho, depois de
comer a carne da própria avó, foi abusada e devorada pelo lobo, sem nenhum
caçador para salvá-la. E a Branca de
Neve, tão linda, depois de ser feita de empregada pelos anões, resolveu se
vingar da madrasta obrigando-a a vestir sapatos de ferro quente e dançar até a
morte.
Tudo bem que havia uma boa
intenção por trás dessas histórias macabras, já que a finalidade dos contos, em
geral contados de pais para filhos, era justamente fazer com que os pequenos
camponeses tomassem cuidado e ficassem alerta, por isso costumavam abordar
temas nada nobres como morte, fome, abandono, vingança, tortura, abuso sexual e
tantas outras preocupações da vida cotidiana. Mas cá entre nós, isso estava
mais para terapia de choque. Credo! Dá até para imaginar aquelas pobres
crianças, semanas sem dormir.
Ainda bem, na Idade Média,
quando a sociedade iniciou a distinção
entre crianças e adultos, isso mudou e os contos de fadas tiveram seus enredos
abrandados, muitos adquirindo as versões que conhecemos até hoje, bem mais
simpáticas.
O primeiro a estabelecer bases para esse novo gênero literário de cunho
popular, contos de fadas, foi o francês Charles Perrault, que deu vida à
Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida, Cinderela, Pequeno Polegar e o Gato de
Botas, dentre outros. Inclusive, foi graças a ele, por conta de um erro de
tradução, que nossa Cinderela – que usava sapatos de pele (vair) - passou a usar sapatos de cristal (verre).
No
século seguinte, os famosos irmãos Grimm e o dinamarquês Hans Christian
Andersen deram seguimento nessa linha literária e a incrementaram os contos,
criando as famosas “morais de história”. E de lá para cá, muita água rolou e
muitas versões surgiram, proporcionalmente às mudanças sociais e culturais de cada
época.
Recentemente
muitas releituras dos contos de fadas, altamente tecnológicas e cheias de
efeitos especiais, foram lançadas nos
cinemas, e para quem ainda não viu, vale a pena conferir.
Dessa
vez, João e Maria depois de serem abandonados pelos pais na sombria floresta e
ficarem sob os cuidados da malvada bruxa da casa de doces, crescem, matam a
bruxa e se tornam exterminadores de criaturas do mal, com um detalhe, João,
como tantos hoje em dia, de tanto comer doces acabou diabético e tem que tomar
insulina, com uma injeção da idade das pedras que é de arrepiar os cabelos!!

João e o Pé de Feijão, na
versão moderna passou a se chamar Jack e o Caçador de Gigantes.
E já se tem notícia de que
uma nova versão da história da Bela Adormecida está saíndo do forno, com
estréia prevista para março de 2014, contada do ponto de vista da vilã, Malévola,
interpretada por Angelina Jolie.
Agora, sobre os tais “finais
felizes”, a fotografa canadense Dina Goldstein fez um set de fotos bem
interessante denominado “Fallen Princess”, que mostra o que aconteceu com as
princesas, na vida como ela é, depois do “felizes para sempre”. E de quebra, aproveitou
para tratar de assuntos da atualidade que estão a merecer atenção como
poluição, câncer, guerra, abandono e até obesidade.
Se quiser ver todas as fotos, é só acessar: http//dinagoldstein.com/
E pensando bem, que bom que
a vida real é diferente dos contos de fadas. Tudo bem que os contos são lindos
e terminam sempre com um final feliz, mas todos, impreterivelmente, terminam ao final de no máximo
dez páginas, enquanto nossas vidas não.
Ainda bem, nós
somos coleções de muitos volumes, o que nos permite, mesmo depois de um episódio horrível e
desastroso, ter a possibilidade de ter outro, depois outro e mais outro
episódio à nossa espera, o que é simplesmente maravilhoso, porque sempre teremos a chance de
acertar e fazer da nossa vida o que queremos que ela seja.
Por isso, não tenha inveja
das princesas e nem perca seu tempo almejando os contos de fadas. Lembre-se que
a vida é bela, que o fracasso é um mestre mais eficaz do que o sucesso e siga
sempre em frente, em busca do SEU FINAL FELIZ.
Agora para terminar, deixo
aqui registrada a versão atualíssima do conto
“A Princesa e o sapo”, que eu adoro contar para os meus filhos para me
lembrar que os tempos mudaram. E eu preciso me lembrar, porque vou ser sogra de
duas, vocês sabem o que é isso?! Então
ai vai, por Luis Fernando Veríssimo:
“Era uma vez...numa terra muito distante...uma princesa linda, independente
e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como
o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...Então, a rã pulou
para o eu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito,
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformou-se nesta rã asquerosa. Um beijo
teu, no entanto, já de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos
casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo, A tua mãe poderia vir
morar conosco e tu poderias prepara o meu jantar, lavar as minhas roupas, crias
os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um
cremoso molho acebolado e de um finíssimovinho branco, a princesa sorria
pensando consigo mesma:
-Eu hein?...nem morta!”
FIM-Eu hein?...nem morta!”
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