quinta-feira, 10 de outubro de 2013

AS VÁRIAS VERSÕES DOS CONTOS DE FADAS

             Você sabia que nem sempre os contos de fadas foram recheados de magia e encantamento? Isso mesmo. Nas versões originais, muitos deles pareciam mais histórias de terror, dignas de pesadelos. João e Maria, por exemplo, além de serem abandonados pelos pais por falta de condições para criá-los, passaram fome e tiveram os olhos devorados pelos animais da floresta. Em, A Bela Adormecida, a linda e vulnerável princesa foi estuprada pelo príncipe e gerou o filho enquanto dormia. Já a doce Chapeuzinho Vermelho, depois de comer a carne da própria avó, foi abusada e devorada pelo lobo, sem nenhum caçador para salvá-la. E a Branca de Neve, tão linda, depois de ser feita de empregada pelos anões, resolveu se vingar da madrasta obrigando-a a vestir sapatos de ferro quente e dançar até a morte.
            Tudo bem que havia uma boa intenção por trás dessas histórias macabras, já que a finalidade dos contos, em geral contados de pais para filhos, era justamente fazer com que os pequenos camponeses tomassem cuidado e ficassem alerta, por isso costumavam abordar temas nada nobres como morte, fome, abandono, vingança, tortura, abuso sexual e tantas outras preocupações da vida cotidiana. Mas cá entre nós, isso estava mais para terapia de choque. Credo! Dá até para imaginar aquelas pobres crianças, semanas sem dormir.
            Ainda bem, na Idade Média, quando a sociedade  iniciou a distinção entre crianças e adultos, isso mudou e os contos de fadas tiveram seus enredos abrandados, muitos adquirindo as versões que conhecemos até hoje, bem mais simpáticas.
            O primeiro a estabelecer bases para esse novo gênero literário de cunho popular, contos de fadas, foi o francês Charles Perrault, que deu vida à Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida, Cinderela, Pequeno Polegar e o Gato de Botas, dentre outros. Inclusive, foi graças a ele, por conta de um erro de tradução, que nossa Cinderela – que usava sapatos de pele (vair) - passou a usar sapatos de cristal (verre).
            No século seguinte, os famosos irmãos Grimm e o dinamarquês Hans Christian Andersen deram seguimento nessa linha literária e a incrementaram os contos, criando as famosas “morais de história”. E de lá para cá, muita água rolou e muitas versões surgiram, proporcionalmente às mudanças sociais e culturais de cada época.
            Recentemente muitas releituras dos contos de fadas, altamente tecnológicas e cheias de efeitos especiais, foram  lançadas nos cinemas, e para quem ainda não viu, vale a pena conferir.
             Dessa vez, João e Maria depois de serem abandonados pelos pais na sombria floresta e ficarem sob os cuidados da malvada bruxa da casa de doces, crescem, matam a bruxa e se tornam exterminadores de criaturas do mal, com um detalhe, João, como tantos hoje em dia, de tanto comer doces acabou diabético e tem que tomar insulina, com uma injeção da idade das pedras que é de arrepiar os cabelos!!
 Em Branca de Neve e o Caçador, o rei literalmente morre de amores por Ravenna -  a ma-ra-vi-lho-sa bruxa - e deixa para ela todo o reino. Branca de Neve é jogada em uma masmorra, onde fica até se tornar uma bela jovem, enquanto a rainha, obcecada pela beleza, e mais ainda pela juventude, precisa do coração das jovens do reino para se manter sempre jovem. Branca de Neve consegue fugir sem que seu coração seja arrancado, mas a malvada não desiste e, além de contar com a ajuda do seu irmão – com quem mantém um relacionamento bem estranho – contrata Eri, o exímio caçador, para trazer sua presa de volta. O caçador, que no final da história é o príncipe, resolve ajudar a jovem  Branca de Neve em sua cruzada contra o reinado da malévola, e esta morre de velha e bem feia.
            João e o Pé de Feijão, na versão moderna passou a se chamar Jack e o Caçador de Gigantes.
            E já se tem notícia de que uma nova versão da história da Bela Adormecida está saíndo do forno, com estréia prevista para março de 2014, contada do ponto de vista da vilã, Malévola, interpretada por Angelina Jolie.

             Agora, sobre os tais “finais felizes”, a fotografa canadense Dina Goldstein fez um set de fotos bem interessante denominado “Fallen Princess”, que mostra o que aconteceu com as princesas, na vida como ela é, depois do “felizes para sempre”. E de quebra, aproveitou para tratar de assuntos da atualidade que estão a merecer atenção como poluição, câncer, guerra, abandono e até obesidade.
  
Se quiser ver todas as fotos, é só acessar: http//dinagoldstein.com/

            E pensando bem, que bom que a vida real é diferente dos contos de fadas. Tudo bem que os contos são lindos e terminam sempre com um final feliz, mas todos, impreterivelmente, terminam ao final de no máximo dez páginas, enquanto nossas vidas não.
            Ainda bem, nós somos coleções de muitos volumes, o que nos permite,  mesmo depois de um episódio horrível e desastroso, ter a possibilidade de ter outro, depois outro e mais outro episódio à nossa espera, o que é simplesmente maravilhoso, porque sempre teremos a chance de acertar e fazer da nossa vida o que queremos que ela seja.
            Por isso, não tenha inveja das princesas e nem perca seu tempo almejando os contos de fadas. Lembre-se que a vida é bela, que o fracasso é um mestre mais eficaz do que o sucesso e siga sempre em frente, em busca do SEU FINAL FELIZ.
            Agora para terminar, deixo aqui registrada a versão atualíssima   do conto  “A Princesa e o sapo”, que eu adoro contar para os meus filhos para me lembrar que os tempos mudaram. E eu preciso me lembrar, porque vou ser sogra de duas, vocês sabem o que é isso?!  Então ai vai, por Luis Fernando Veríssimo:
“Era uma vez...numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...Então, a rã pulou para o eu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito, Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformou-se nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, já de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo, A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias prepara o meu jantar, lavar as minhas roupas, crias os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimovinho branco, a princesa sorria pensando consigo mesma:
-Eu hein?...nem morta!”
                                                           FIM

         

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