Hakai é um estilo poético de origem japonesa que surgiu por volta do século XVI, mas apenas no século XX começou a ser difundido pelo mundo.
Os poemas
haikai - aportuguesado haicai, haiku para os japoneses e também escrito hai-kais
- têm como principal característica a concisão e a objetividade. Eles são
formados por apenas três linhas, em que obrigatoriamente a primeira e a última
linha precisam conter cinco caracteres japoneses, que totalizam sempre cinco
sílabas. Já a segunda linha precisa apresentar sete caracteres, ou sete sílabas,
contando com dezessete sílabas no total.
Os
impressos no Japão têm a tradição de ficar sempre em uma única linha vertical,
enquanto sua tradução para o português costuma ser impresso em três linhas
horizontais e paralelas. Esse estilo poético é muito praticado pelos mestres
Zen-budistas, que o utilizam para expressar seus pensamentos e filosofias espiritualistas
através de símbolos, imagens poéticas e paradoxos.
Segundo
R. H. Blyth:
“A friagem de um dia frio, o
calor de um dia quente, a lisura de uma pedra, a brancura de uma gaivota, a
lonjura das montanhas distantes, a pequenez de uma florzinha, a umidade de uma
estação chuvosa....isso é motivo para um Haicai.”
Seu
objetivo é capturar a essência de uma coisa ou lugar e transformá-la em uma
poesia descritiva e contemplativa. São
como “um pingo d’água caindo sobre a superfície de um lago tranquilo e
fazendo-nos ficar atentos à propagação de um som que não ouvimos.”
A
ação se passa no presente e neste sentido, se diz que o haicai é infindável, sua
mensagem está sempre ali, visível como uma pintura de imagens. É o retrato de
um momento de êxtase, onde o mínimo sugere o máximo, mais omite do que diz e
por isso, é preciso mais interpretar do que entender. Como bem resume
Eisenstein: “o haicai é um esboço impressionista concentrado.”
Geralmente
os poemas haikai vêm acompanhados de uma pintura, chamada de haiga e os escritores
desses poemas são chamados de haijim. Dentre os muitos haijins, o que mais se
destacou foi Matsuô Cachô, que viveu entre 1644 e 1694 e fazia do haikai uma
prática espiritual.
No Brasil,
o primeiro autor a mencionar o Haikai foi Afrânio Peixoto, em 1919, no seu
livro Trocas Populares Brasileiras, se referindo aos haikais como “uma forma
elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular”, mas foi Guilherme
de Almeida quem os popularizou.
Encantados
por sua delicadeza, muitos poetas brasileiros adotaram os haikais. Paulo
Leminski, Mário Quintana, Millôr Fernandes, Alice Ruiz, Paulo Franchetti e
Saulo Mendonça, entre outros, estão nessa lista.


Millôr
Fernandes escreveu seus haikais de forma diferente da japonesa, bem abrasileirada
- já que a cultura é totalmente diferente. Recriou e adaptou ao dia-a-dia, e
colocou-as em um livro.
Para quem tem filhos pequenos, tem um livro muito bom do Ziraldo, com uma coletânea de haikais plenos de humor, doçura e descobertas.
Também tem um livro de coletânea de haikais de Carlos Seabra bem bacana, onde ele mistura várias categorias deles, desde os que podem ser considerados verdadeiros haicais até outros tantos onde usa o formato para fugir da sua verdadeira essência.
Agora, alguns dos meus Haikais
preferidos:
É meu conforto
Da vida só me tiram
Morto.
(Millôr)
Hoje a noite
Até as estrelas
Cheiram a flor de laranjeira
(Leminski)
Probleminhas terrenos
Quem vive mais
Morre menos?
(Millôr)
Pena eu estar
Só de passagem
Só de passagem
(Leminski)
Amar é um eloEntre o azul
E o amarelo
(Leminski)
Para finalizar, cito um haicai de Kenzan:
há sempre um
que o vento não balança
http://valedomago.blogspot.com.br/2011/12/o-sagrado-salgueiro-chorao.html
Agora que você já conhece, que tal tentar criar o seu próprio Haikai?
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