quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Você sabe o que é um HAIKAI?



            Hakai é um estilo poético de origem japonesa que surgiu por volta do século XVI, mas apenas no século XX começou a ser difundido pelo mundo.
          Os poemas haikai - aportuguesado haicai, haiku para os japoneses e também escrito hai-kais - têm como principal característica a concisão e a objetividade. Eles são formados por apenas três linhas, em que obrigatoriamente a primeira e a última linha precisam conter cinco caracteres japoneses, que totalizam sempre cinco sílabas. Já a segunda linha precisa apresentar sete caracteres, ou sete sílabas, contando com dezessete sílabas no total.
           Os impressos no Japão têm a tradição de ficar sempre em uma única linha vertical, enquanto sua tradução para o português costuma ser impresso em três linhas horizontais e paralelas. Esse estilo poético é muito praticado pelos mestres Zen-budistas, que o utilizam para expressar seus pensamentos e filosofias espiritualistas através de símbolos, imagens poéticas e paradoxos.
            Segundo R. H. Blyth:
“A friagem de um dia frio, o calor de um dia quente, a lisura de uma pedra, a brancura de uma gaivota, a lonjura das montanhas distantes, a pequenez de uma florzinha, a umidade de uma estação chuvosa....isso é motivo para um Haicai.”
             Seu objetivo é capturar a essência de uma coisa ou lugar e transformá-la em uma poesia descritiva e contemplativa. São como “um pingo d’água caindo sobre a superfície de um lago tranquilo e fazendo-nos ficar atentos à propagação de um som que não ouvimos.”
A ação se passa no presente e neste sentido, se diz que o haicai é infindável, sua mensagem está sempre ali, visível como uma pintura de imagens. É o retrato de um momento de êxtase, onde o mínimo sugere o máximo, mais omite do que diz e por isso, é preciso mais interpretar do que entender. Como bem resume Eisenstein: “o haicai é um esboço impressionista concentrado.”
              Geralmente os poemas haikai vêm acompanhados de uma pintura, chamada de haiga e os escritores desses poemas são chamados de haijim. Dentre os muitos haijins, o que mais se destacou foi Matsuô Cachô, que viveu entre 1644 e 1694 e fazia do haikai uma prática espiritual.
               No Brasil, o primeiro autor a mencionar o Haikai foi Afrânio Peixoto, em 1919, no seu livro Trocas Populares Brasileiras, se referindo aos haikais como “uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular”, mas foi Guilherme de Almeida quem os popularizou.
Encantados por sua delicadeza, muitos poetas brasileiros adotaram os haikais. Paulo Leminski, Mário Quintana, Millôr Fernandes, Alice Ruiz, Paulo Franchetti e Saulo Mendonça, entre outros, estão nessa lista.





Millôr Fernandes escreveu seus haikais de forma diferente da japonesa, bem abrasileirada - já que a cultura é totalmente diferente. Recriou e adaptou ao dia-a-dia, e colocou-as em um livro.







Para quem tem filhos pequenos, tem um livro muito bom do Ziraldo, com uma coletânea de haikais plenos de humor, doçura e descobertas.  



Também tem um livro de coletânea de haikais de Carlos Seabra bem bacana, onde ele mistura várias categorias deles, desde os que podem ser considerados verdadeiros haicais até outros tantos onde usa o formato para fugir da sua verdadeira essência.

    

                                        Agora, alguns dos meus Haikais preferidos:

É meu conforto
Da vida só me tiram
Morto. 
(Millôr)

                                    Hoje a noite
                                Até as estrelas
                                    Cheiram a flor de laranjeira
                                 (Leminski)   


Probleminhas terrenos
Quem vive mais
Morre menos?
 (Millôr)

                                                                          Essa vida é uma viagem
                                                                                       Pena eu estar 
                                                                                  Só de passagem 
                                                                         (Leminski)
Amar é um elo
Entre o azul
E o amarelo 
(Leminski)

                                         Para finalizar, cito um haicai de Kenzan:


    Num grupo de salgueiros      
há sempre um
que o vento não balança

 http://valedomago.blogspot.com.br/2011/12/o-sagrado-salgueiro-chorao.html

                     Agora que você já conhece, que tal tentar criar o seu próprio Haikai?

                                    

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