segunda-feira, 9 de setembro de 2013

MULHERES E SAPATOS

            Uma coisa que sempre me deixou intrigada foi a paixão das mulheres por sapatos. Eu particularmente gosto muito, embora eles não ocupem o topo da minha lista. Entretanto, tenho muitas amigas que são alucinadas por eles.
            Algumas dizem que amam sapatos porque eles as fazem se sentir mais bonitas e porque deixam qualquer roupa maravilhosa. Outras, dizem que adoram sapatos porque eles lhes dão uma sensação de ‘poder’ e refletem sua personalidade. Já encontrei quem os considere verdadeiras ‘armas’, daquelas para voar na cabeça de um, pisar no pé de outro. E muitas simplesmente gostam porque gostam e necessitam sempre de um novo par de sapatos para cada nova bolsa, roupa, cinto, viagem ou evento.
            Mas de onde vem essa paixão que parece transcender o simples e puro consumismo, mais parecendo uma relação de puro afeto, do tipo ‘amor perfeito’?
            Segundo estudiosos, em pinturas do final do período paleolítico, encontradas em cavernas na Espanha e no sul da França, foram descobertos registros que indicam que os sapatos foram inventados na Mesopotâmia, a partir de 10 mil a. C., como forma de proteger os pés. Os pés que, diga-se de passagem, sempre contaram lá com seu fascínio, importância e respeito. Basta lembrarmos que o ato de beijar os pés vem desde a antiguidade e está presente inclusive em parábolas bíblicas. Leonardo Da Vinci chegou a se referir a eles como o melhor dispositivo de engenharia do mundo!
            Além disso, pés cansados e doloridos afetam nossa aparência, sensação e movimentos, o que explica, em grande parte, porque desde sempre os sapatos estiveram relacionados à atração, veneração e no imaginário coletivo possuam uma estreita relação com a sedução e bem estar.
            Também existem muitas histórias que nos mostram a hierarquia, beleza, intenções secretas e o poder envolvendo os sapatos. Há 1200 anos, por exemplo, na China, sapatilhas com tamanho de oito centímetros eram usadas pelas mulheres desde a infância com a finalidade de atrofiar os pés, para que elas tivessem um caminhar elegante, curto e lento.
Cá entre nós, ainda bem que atualmente a elegância tem um preço bem mais barato!




           
           Já na Grécia Antiga, as cortesãs usavam sandálias com pequenas tachas presas às solas, que marcavam o solo como sugestão para serem seguidas. No Egito, os sapatos, feitos com pedrarias e bordados em ouro, eram privilégio das mulheres de classe alta. Na Roma Antiga, os sapatos eram usados para indicar a classe social. 
            Quanto aos sapatos de salto, muito embora alguns digam que foi Catarina de Médici quem os inventou, e outros, que foi Luis XIV quem primeiro os encomendou, o fato é que ambos pretendiam, com eles, parecer mais altos e impor mais respeito.
  
Existem relatos que indicam que no século XV, porém, mulheres ricas e bem sucedidas passaram a usar sapatos de salto bem altos, especialmente projetados por seus maridos, como forma de dificultar seu deslocamento e garantir um maior controle sobre elas.
      
            Josephine, a primeira esposa de Napoleão Bonaparte, já era fissurada por sapatos. Ela desfilava com 5 ou 6 pares diferentes todos os dias. E Maria Antonieta jamais usava o mesmo sapato duas vezes. Ela possuía mais de 500 pares, catalogados por cor, modelo e data e alguns, de tão delicados, só eram usados quando ela estava sentada, pois não serviam para caminhar.
            Mas foi com a popularização que os sapatos transcenderam por completo sua finalidade transformando-se em um maravilhoso adorno, objeto de desejo e verdadeiro acessório de moda, passando a refletir, com seus mais diversos desings, os avanços sociais e culturais feitos pelo público, principalmente o feminino.         
Antigo Para a jornalista Paola Jacobbi, autora do livro Eu Quero Aquele Sapato!,   o calçado faz sucesso porque é democrático, porque não põe em discussão o corpo. Calçam as gordas, magras, feias ou bonitas, supermodelos ou meras mortais e permitem que você se encaixe em qualquer padrão e tenha o sapato que bem entender. 

 Rachelle Bergestein, em seu livro, “Do Tornozelo para Baixo – A História dos Sapatos e como Eles definem as Mulheres”, define os sapatos como “pequenas obras de arte que você pode usar nos pés e fazem você se sentir bem até se estiver de jeans e camiseta. Eles podem mudar todo o visual e comunicam sexualidade, status econômico e posição social.” Quanto aos saltos? Bem, ela diz que “os saltos projetam os seios da mulher para frente, destacam os glúteos e deixam as pernas alongadas”. Precisa mais alguma coisa?
               Gabriela Caldeira de Castro Novaes, por sua vez, num artigo muito interessante que conta sobre a trajetória dos sapatos, os descreve como uma ‘peça de valor intrínseco à moda de todos os tempos’, e conclui que os sapatos ‘são indicadores, têm alma e retratam desejos, intenções, personalidade, fetiches, sensualidade e até sexualidade, além de revelarem momentos históricos e políticos, tendências sociais, psíquicas, cultos e ideais.’


             Tem muitos que creditam à história da Cinderela papel importante nessa paixão, afinal, desde pequenas somos levadas a acreditar que os sapatos vêm junto com um lindo príncipe e um castelo maravilhoso.
            Já o neurocientista indiano Vilayanur Ramachandran, diretor do Centro do Cérebro e da Cognição da Universidade da Califórnia e autor do livro Fantasmas do Cérebro, explica que o fetiche por sapatos se dá pelo fato das áreas do cérebro associadas aos órgãos genitais e aos pés estarem muito próximas, sendo facilmente estimuladas entre si.
              Assim, se você é daquelas que não consegue resistir àquele sapato da vitrine que custa uma fortuna, mas ‘tem a sua cara’, não se preocupe: VOCÊ É NORMAL. Afinal, nada mais desagradável do que um pé mal calçado, mesmo que se esteja vestindo uma roupa de milhares de dólares, não é mesmo?!
              Agora, se por isso alguém, algum dia, tentar insinuar que você é maluca ou não tem juízo, fique calma, não se abale nem desça do salto e guarde bem esse nome: Imelda Marcos, porque maluca era ela.
          Imelda, ex-primeira-dama das Filipinas, foi considerada a maior colecionadora de sapatos e a mais famosa apaixonada por esse acessório da história. Viúva do ex-ditador Ferdinand Marcos chegou a inaugurar um museu dedicado aos próprios calçados, na cidade de Manilla, com mais de três mil pares de sapatos, que foram encontrados pela oposição, quando tomou o palácio presidencial, depois que Imelda e seu marido fugiram do país, em 1986, derrubados durante uma revolta popular.
             Mas se estiver querendo impressionar as amigas, naquele chá da tarde, guarde esses nomes:
Manolo Blahnik, um estilista espanhol que o mundo passou a conhecer graças à paixão que Carrie Bradshaw, personagem de Sex and the City declarava, episódio sim e outro também, por suas criações. Quem assistiu ao filme certamente vai se lembrar desse sapato.

Christian Louboutin,  estilista francês e o preferido de celebridades fashionistas como Nicole Richie, Dita Von Teese e Katie Holmes - que até já mandou fazer sapatos sob medida para a filha, Suri, quando ela tinha três anos. Louboutin é considerado o mais “in” dos estilistas, mistura cores fortes e utiliza aplicações imponentes, como flores de pétalas de seda e plumas. Sua marca registrada são os solados vermelhos. Recentemente abriu sua primeira loja brasileira, no Iguatemi de São Paulo, com uma vantagem única no mundo: sapatos parcelados em até três vezes.
E Jimmy Choo. Designer chinês, nascido na Malásia é originário de uma família de sapateiros. A sua grande sacada foi criar peças exclusivas para as hollywoodianas pisarem nos tapetes vermelhos. Atrizes como Angelina Jolie, Cate Blanchett e Halle Berry, dentre tantas outras, já desfilaram seus pares por ai. Ele é famoso por suas sandálias de tiras e pelas estampas, sobretudo as de animais. 
            Bem, com tudo isso acho que está mais do que explicado a paixão das mulheres por sapatos, muito embora tenha certeza que os homens continuarão sem entender porque precisamos de tantos sapatos e de sapatos novos, mesmo tendo todos aqueles guardados no closet, em cima do armário, debaixo da cama, no armário do corredor...Como também continuarão sem entender o que tem no banheiro feminino e porque as mulheres vão até lá sempre em grupo.
             Mas essa já é outra história.

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