Uma coisa que sempre me deixou
intrigada foi a paixão das mulheres por sapatos. Eu particularmente gosto muito, embora eles não ocupem o topo da minha lista. Entretanto, tenho muitas amigas que
são alucinadas por eles.
Algumas
dizem que amam sapatos
porque eles as fazem se sentir mais bonitas e porque deixam qualquer roupa maravilhosa.
Outras, dizem que adoram sapatos porque eles lhes dão uma sensação de ‘poder’ e
refletem sua personalidade. Já encontrei quem os considere verdadeiras ‘armas’,
daquelas para voar na cabeça de um, pisar no pé de outro. E muitas simplesmente
gostam porque gostam e necessitam sempre de um novo par de sapatos para cada
nova bolsa, roupa, cinto, viagem ou evento.
Mas
de onde vem essa paixão que parece transcender o simples e puro consumismo,
mais parecendo uma relação de puro afeto, do tipo ‘amor perfeito’?
Segundo
estudiosos, em pinturas do final do período paleolítico, encontradas em
cavernas na Espanha e no sul da França, foram descobertos registros que indicam
que os sapatos foram inventados na
Mesopotâmia, a partir de 10 mil a. C., como forma de proteger os pés. Os pés que,
diga-se de passagem, sempre
contaram lá com seu fascínio, importância e respeito. Basta lembrarmos que o
ato de beijar os pés vem desde a antiguidade e está presente inclusive em
parábolas bíblicas. Leonardo Da Vinci chegou a se referir a eles como o melhor
dispositivo de engenharia do mundo!
Além disso, pés cansados e doloridos
afetam nossa aparência, sensação e movimentos, o que explica, em grande parte, porque
desde sempre os sapatos estiveram relacionados à atração, veneração e no
imaginário coletivo possuam uma estreita relação com a sedução e bem estar.
Também existem muitas histórias que
nos mostram a hierarquia, beleza, intenções secretas e o poder envolvendo os
sapatos. Há 1200 anos, por exemplo, na China, sapatilhas com tamanho de oito
centímetros eram usadas pelas mulheres desde a infância com a finalidade de atrofiar
os pés, para que elas tivessem um caminhar elegante, curto e lento.
Cá entre nós, ainda bem que atualmente a elegância tem
um preço bem mais barato!
Já na Grécia Antiga, as cortesãs usavam
sandálias com pequenas tachas presas às solas, que marcavam o solo como
sugestão para serem seguidas. No Egito, os sapatos, feitos com pedrarias e
bordados em ouro, eram privilégio das mulheres de classe alta. Na Roma Antiga,
os sapatos eram usados para indicar a classe social.
Quanto aos sapatos de salto, muito
embora alguns digam que foi Catarina de Médici quem os inventou, e outros, que
foi Luis XIV quem primeiro os encomendou, o fato é que ambos pretendiam, com
eles, parecer mais altos e impor mais respeito.
Existem relatos que indicam que no século XV, porém, mulheres ricas e bem sucedidas passaram a usar sapatos de salto bem altos, especialmente projetados por seus maridos, como forma de dificultar seu deslocamento e garantir um maior controle sobre elas.
Josephine, a primeira esposa de
Napoleão Bonaparte, já era fissurada por sapatos. Ela desfilava com 5 ou 6
pares diferentes todos os dias. E Maria Antonieta jamais usava o mesmo sapato
duas vezes. Ela possuía mais de 500 pares, catalogados por cor, modelo e data e
alguns, de tão delicados, só eram usados quando ela estava sentada, pois não
serviam para caminhar.
Mas
foi com a popularização que os sapatos transcenderam por completo sua
finalidade transformando-se em um maravilhoso adorno, objeto de desejo e
verdadeiro acessório de moda, passando a refletir, com seus mais diversos desings, os avanços sociais e culturais
feitos pelo público, principalmente o feminino.
Antigo Para a jornalista Paola Jacobbi, autora do livro Eu
Quero Aquele Sapato!, o calçado faz
sucesso porque é democrático, porque não põe em discussão o corpo. Calçam as
gordas, magras, feias ou bonitas, supermodelos ou meras mortais e permitem que
você se encaixe em qualquer padrão e tenha o sapato que bem entender.

Gabriela Caldeira de Castro Novaes, por
sua vez, num artigo muito interessante que conta sobre a trajetória dos
sapatos, os descreve como uma ‘peça de valor intrínseco à moda de todos os
tempos’, e conclui que os sapatos ‘são indicadores, têm alma e retratam
desejos, intenções, personalidade, fetiches, sensualidade e até sexualidade,
além de revelarem momentos históricos e políticos, tendências sociais,
psíquicas, cultos e ideais.’

Tem muitos que creditam à história da
Cinderela papel importante nessa paixão, afinal, desde pequenas somos levadas a
acreditar que os sapatos vêm junto com um lindo príncipe e um castelo
maravilhoso.
Já
o neurocientista indiano Vilayanur Ramachandran, diretor do Centro do Cérebro e
da Cognição da Universidade da Califórnia e autor do livro Fantasmas do Cérebro, explica que
o fetiche por sapatos se dá pelo fato das áreas do cérebro associadas aos
órgãos genitais e aos pés estarem muito próximas, sendo facilmente estimuladas
entre si.
Assim, se você é
daquelas que não consegue resistir àquele sapato da vitrine que custa uma
fortuna, mas ‘tem a sua cara’, não se preocupe: VOCÊ É NORMAL. Afinal, nada mais desagradável
do que um pé mal calçado, mesmo que se esteja vestindo uma roupa de milhares de
dólares, não é mesmo?!
Agora, se por isso alguém, algum dia, tentar insinuar
que você é maluca ou não tem juízo, fique calma, não se abale nem desça do
salto e guarde bem esse nome: Imelda Marcos, porque maluca era ela.
Imelda, ex-primeira-dama das Filipinas, foi considerada
a maior colecionadora de sapatos e a mais famosa apaixonada por esse acessório
da história. Viúva do ex-ditador Ferdinand Marcos chegou a inaugurar um museu
dedicado aos próprios calçados, na cidade de Manilla, com mais de três mil pares de sapatos, que foram
encontrados pela oposição, quando tomou o palácio presidencial, depois que
Imelda e seu marido fugiram do país, em 1986, derrubados durante uma revolta
popular.
Mas se estiver querendo impressionar as
amigas, naquele chá da tarde, guarde esses nomes:



Bem,
com tudo isso acho que está mais do que explicado a paixão das mulheres por
sapatos, muito embora tenha certeza que os homens continuarão sem entender porque
precisamos de tantos sapatos e de sapatos novos, mesmo tendo todos aqueles guardados
no closet, em cima do armário, debaixo da cama, no armário do corredor...Como também
continuarão sem entender o que tem no banheiro feminino e porque as mulheres vão
até lá sempre em grupo.
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