segunda-feira, 19 de novembro de 2018

GENTE QUE FAZ: ANARKIA BOLADONA


A grafiteira Panmela Castro, mais conhecida como Anarkia Boladona, codinome artístico com o qual ganhou o mundo, é uma artista ativista que, por meio de sua arte, visa promover a igualdade de gênero.   
         Nascida e criada na periferia carioca, a grafiteira se formou Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e é mestre em Arte Contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Sua arte, de caráter político, feminista e autobiográfico, atualmente pode ser encontrada em três continentes, dez países e várias cidades do mundo, e já ganhou prêmios dentro e fora do Brasil. Além disso, recentemente, Panmela foi reconhecida pela revista Newsweek como uma das 150 mulheres que estão abalando o mundo.
         Com seus enormes grafites que retratam mulheres e frases que clamam pela liberdade da mulher em relação a seu corpo e a sua sexualidade, bem como pelo direito de escolha das mulheres, a artista plástica e ativista ajuda a quebrar uma das barreiras que mais dificultam o combate a abusos contra mulheres: a comunicação. E mostra com clareza as situações cotidianas que envolvem o problema.

         A história de militância de Panmela se funde com sua própria biografia. Ela vivenciou a violência doméstica durante um casamento, experiência sobre a qual fala abertamente. Mesmo após se refugiar na casa dos pais, era constantemente perseguida e se sentia intimidada. Até que ela, que já pichava muros quando adolescente, foi convidada por amigos para grafitar. “Eu sabia que ali meu ex-marido não ia tentar nada, porque eu estava com várias pessoas ao meu lado.”
         Com os amigos do grafite, Panmela redescobriu não só a arte, mas a coragem para retomar a vida ao ar livre. “Passei seis meses em depressão dentro de casa, sem fazer nada e essa foi a oportunidade para poder voltar a viver a minha vida. O grafite foi uma forma de eu me ressocializar.”
         Pensando em criar uma nova alternativa para as grafiteiras, aos poucos formou sua própria rede de contatos que deu origem à Nami. Além da promoção da arte em si, a rede promove encontros e formações sobre feminismo, empreendedorismo e direitos das mulheres. No seio da arte está o questionamento sobre a posição da mulher na sociedade e as regras às quais ela está sujeita a se submeter.
         Em uma de suas falas para o Brasil de Fato, Panmela explica:
 “Muito mais que encarar o preconceito e as desigualdades de frente, é preciso entender e perceber esses preconceitos. Às vezes a gente passa por diversas situações que não consegue identificar as razões daquilo acontecer. Precisamos abrir o olho para as situações e exigir os nossos direitos. A mulher é muito explorada no trabalho, tem muito assédio e às vezes a gente deixa passar as coisas.”

Os trabalhos de mobilização da rede Nami já renderam dois prêmios internacionais de direitos humanos: o Vital Voices Global Leadership Awards, da Organização Vital Voices, fundada pela secretária de Estado dos Estados Unidos Hillary Clinton, e o DVF Awards, da Fundação Diller Von Furstenberg Family Fundation, organização da estilista Diane Von Furstenberg.
         Um dos projetos da rede realizou 30 oficinas com as “Mulheres da Paz”, senhoras idosas que atuam como conciliadoras em comunidades pobres do Rio de Janeiro. As “oficineiras” mediavam conversas entre elas e grupos de jovens sobre as questões da comunidade, inserindo também os temas da discriminação e cidadania.
         A união das duas gerações se deu no momento do grafite. “Uma mulher com 70 anos me marcou muito por ter falado ‘nossa, eu nunca pensei que eu ia poder fazer um negócio bonito desses’, deslumbrada pelo próprio grafite na parede.”
         Grafite como uma poderosa ferramenta de transformação social não só pela comunicação, mas pela socialização proporcionada pela atividade.
         Isso é gente que faz!           

 

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