quinta-feira, 30 de maio de 2013

" OLHO POR OLHO E O MUNDO ACABARÁ CEGO "

Infelizmente a realidade nos mostra que ainda não conseguimos combinar emprego, educação, transferência de renda e prática de crimes. Embora sejamos pródigos em indicadores financeiros, que já nos permitem tutelar o crescimento da economia ou da inflação quase que diariamente, dados da criminalidade ainda são exíguos, quando não pouco confiáveis, pelo teor eleitoral que imediatamente despertam. Nossos gestores da segurança trabalham praticamente nas sombras, enquanto a sociedade é seguidamente levada a crer por ilusionistas competentes ou demagogos interesseiros e oportunistas, que mudar o Código Penal é a única e milagrosa forma para reverter a criminalidade.
         O curioso é que aqueles que mais ardorosamente se embrenham na “luta contra o crime” nem querem ouvir falar em redução de desigualdades. Acreditam cegamente na solução simplista de uma canetada, como se os estabelecimentos prisionais não fossem apenas depósitos de restos de humanidade e o nosso sistema penal tivesse mesmo o possibilidade de recuperar e reinserir, e não fosse um sistema falido. Esquecem-se das escolas públicas decadentes, da enorme massa de jovens adultos perambulando pela cidade, sem nenhuma possibilidade de emancipação econômica ou de inclusão social. Esquecem-se até mesmo da existência do Estatuto da Criança e Adolescente - uma lei com normas e princípios com foco numa cidadania crescente e uma perspectiva inovadora que defende condições ideais para a infância e a juventude, pensando num futuro e num mundo melhor - que está a completar 23 anos de idade e ainda não foi devidamente implementada para cumprir ao menos metade do que se propôs. 
         Pensar a solução da criminalidade somente por intermédio de leis penais significa quase sempre usar o querosene para apagar um incêndio. Mas o discurso empolga. Aliado à divulgação de atos de violência que nos atingem em cheio, não paramos para raciocinar que a carcerização em massa não só não provoca a diminuição dos crimes, como em médio prazo, os faz crescer. Pior. Nos esquecemos que a inclusão é mais barata e mais eficiente do que a repressão, e que se continuarmos a fabricar loucos, um dia não poderemos com eles. 
         Nem de longe estou insinuando que a violência não precisa ser combatida. Sou cidadã, tenho família e filhos. Mas precisamos nos perguntar de que forma combater a violência para que possamos ter mais tranquilidade hoje, e principalmente, para que nossos filhos, netos e bisnetos possam encontrar um mundo melhor. 
         Tenho tanto medo dos discursos simplórios, lineares e vingativos, que apresentam soluções prontas e pontuais para problemas extremamente complexos, quanto da violência que se apresenta. E se realmente decidirmos seguir a cartilha do ‘olho por olho’, precisamos ao menos estar cientes que um dia, como bem disse Mahatma Gandhi, certamente o mundo acabará cego.

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