
O curioso é que aqueles que mais ardorosamente se embrenham na “luta contra o crime” nem querem ouvir falar em redução de desigualdades. Acreditam cegamente na solução simplista de uma canetada, como se os estabelecimentos prisionais não fossem apenas depósitos de restos de humanidade e o nosso sistema penal tivesse mesmo o possibilidade de recuperar e reinserir, e não fosse um sistema falido. Esquecem-se das escolas públicas decadentes, da enorme massa de jovens adultos perambulando pela cidade, sem nenhuma possibilidade de emancipação econômica ou de inclusão social. Esquecem-se até mesmo da existência do Estatuto da Criança e Adolescente - uma lei com normas e princípios com foco numa cidadania crescente e uma perspectiva inovadora que defende condições ideais para a infância e a juventude, pensando num futuro e num mundo melhor - que está a completar 23 anos de idade e ainda não foi devidamente implementada para cumprir ao menos metade do que se propôs.
Pensar a solução da criminalidade somente por intermédio de leis penais significa quase sempre usar o querosene para apagar um incêndio. Mas o discurso empolga. Aliado à divulgação de atos de violência que nos atingem em cheio, não paramos para raciocinar que a carcerização em massa não só não provoca a diminuição dos crimes, como em médio prazo, os faz crescer. Pior. Nos esquecemos que a inclusão é mais barata e mais eficiente do que a repressão, e que se continuarmos a fabricar loucos, um dia não poderemos com eles.
Nem de longe estou insinuando que a violência não precisa ser combatida. Sou cidadã, tenho família e filhos. Mas precisamos nos perguntar de que forma combater a violência para que possamos ter mais tranquilidade hoje, e principalmente, para que nossos filhos, netos e bisnetos possam encontrar um mundo melhor.
Tenho tanto medo dos discursos simplórios, lineares e vingativos, que apresentam soluções prontas e pontuais para problemas extremamente complexos, quanto da violência que se apresenta. E se realmente decidirmos seguir a cartilha do ‘olho por olho’, precisamos ao menos estar cientes que um dia, como bem disse Mahatma Gandhi, certamente o mundo acabará cego.
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