quarta-feira, 5 de junho de 2013

BOLSA FAMÍLIA


  Quase dez anos depois de instituído o Bolsa Família - com o título de maior programa de transferência de renda brasileiro e o propósito de diminuir a miséria e combater a vergonhosa e brutal desigualdade econômico-social brasileira - uma questão ainda atormenta muitas cabeças pensantes e de execução do nosso país: - Devemos dar o peixe ou ensinar a pescar?

  Não há motivos para duvidarmos da necessidade e grandeza do Bolsa Família. Trata-se de um programa que garante o direito mais elementar: a vida. Além disso, todos nós sabemos que sem um mínimo essencial à subsistência, não há educação que resista, saúde que aguente e muito menos força para o trabalho. Simples assim, sem demagogia.

  Para aqueles que gostam de estudos e pesquisas, recentemente foi realizado um estudo pela Universidade de Sussex, na Inglaterra, que concluiu que o tempo de participação no programa, associado ao valor do benefício, concorre para a melhoria dos resultados escolares. Tradução: de barriga vazia não há cérebro que funcione. Sob outro aspecto, uma interessante pesquisa realizada pela antropóloga Walquiria Domingues Leão Rêgo, da Universidade Estadual de Campinas, concluiu que o Bolsa Família - ao permitir que as mulheres, pela primeira vez, tenham uma renda fixa - deu início a uma revolução feminista, lenta e silenciosa, nos rincões mais pobres e possivelmente mais machistas do Brasil. E cá entre nós, quem conhece a realidade do nosso imenso país, não tem motivos para duvidar que a maioria das 5,4 milhões de pessoas beneficiadas, só conseguiu sobreviver graças ao recebimento do benefício, que comprovadamente reduziu a mortalidade infantil.

  Mesmo assim, vemos com frequência muitos daqueles que dão mesadas ou bolsas de estudo para os integrantes de suas famílias, se mostram absolutamente refratários quando se trata do Poder Público dar um valor mínimo para que o cidadão sobreviva sem mendigar. Dizem, para justificar, que se trata de medida meramente assistencialista e que assim essas pessoas se acomodarão e se tornarão um parasita social, sem vontade de progredir na vida. Como se as pessoas que nasceram na abastança se conformassem com tudo o que já tem!! É claro que houve, há e sempre haverá um percentual de pessoas que não gosta de trabalhar. Mas venhamos e convenhamos, esse ‘fenômeno’ ocorre entre ricos e pobres, e nem de longe é ‘privilégio’ da sociedade brasileira. Qualquer insinuação em contrário é pensamento mesquinho, míope e preconceituoso.


   O que ocorre, na realidade, é que esse tipo de beneficio não pode ser o único programa de combate à miséria. Se outras medidas como geração de empregos, o estímulo ao trabalho, a criação de cursos profissionalizantes remunerados, e principalmente um belo projeto de educação de base forte e sólida não forem adotadas, permanecerá a eterna dúvida sobre ser esse um benefício que reduz a fome das famílias ou um estímulo à inércia, numa verdadeira motivação às avessas, porque   é a educação que liberta e o trabalho que dignifica o homem.

  Por isso a urgência de medidas complementares.  Temos que dar o peixe e ensinar a pescar, caso contrário, o programa permanecerá frágil e incapaz de se tornar a verdadeira alavanca da recuperação da condição histórica da cidadania e independência das pessoas, a pairar sobre as cabeças necessitadas, com fortes ares do velho e conhecido coronelismo, inadmissível aos nossos ideais republicanos.

  Uma sociedade democrática necessariamente precisa ser menos desigual, mas essencialmente há de ser livre e independente.

0 comentários

Postar um comentário