A águia que não queria voar é uma bela parábola de autoria do educador ganense James Aggrey, que ganhou o mundo e foi repetida em um sem-número de versões e idiomas, desde a sua escritura, um século atrás.
James Aggrey era intelectual, missionário e pedagogo. Nascido em 1875, na cidade de Anomabu, Gana, ele teve grande relevância política como educador de seu povo e foi considerado um dos precursores do nacionalismo africano e do moderno pan-africanismo.
Para quem não sabe, Gana, no século XVI, era uma colônia portuguesa e era tão rica em ouro e pedras que foi chamada de Costa do Ouro. No século XVII, entretanto, sob o pretexto de combater a exportação de escravos para as Américas, a Inglaterra apoderou-se dessa colônia portuguesa, e para ocultar a violência da sua conquista, como em regra fizeram todos os conquistadores, os ingleses passaram a desmoralizar os conquistados, tratando-os com desigualdade e discriminação, consagrando suas diferenças como inferioridade.
Falavam tanto e com tamanha convicção, que muitos dos colonizados acabaram escravizados por essas ideias e valores antipopulares, hospedando dentro de si esses preconceitos, passando a acreditar que realmente valiam menos.
Essa pequena história sobre uma águia criada entre galinhas que não queria voar, foi escrita por Aggrey como um lembrete aos povos africanos, então sob dominação europeia, buscando mostrar a eles que a riqueza de suas culturas e tradições seguia viva, a despeito da opressão. Ele acreditava que para libertar o país era preciso, antes de tudo, libertar a consciência do seu povo resgatando sua própria dignidade a fim despetá-los para sua grandeza esquecida.
Por isso, em 1925, quando participava de uma reunião de líderes populares na qual discutiam os caminhos da libertação do domínio colonial inglês, ele pediu a palavra e com a calma de um sábio contou:
Essa pequena história sobre uma águia criada entre galinhas que não queria voar, foi escrita por Aggrey como um lembrete aos povos africanos, então sob dominação europeia, buscando mostrar a eles que a riqueza de suas culturas e tradições seguia viva, a despeito da opressão. Ele acreditava que para libertar o país era preciso, antes de tudo, libertar a consciência do seu povo resgatando sua própria dignidade a fim despetá-los para sua grandeza esquecida.
Por isso, em 1925, quando participava de uma reunião de líderes populares na qual discutiam os caminhos da libertação do domínio colonial inglês, ele pediu a palavra e com a calma de um sábio contou:
Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Entretanto, muito embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros, ele o colocou no galinheiro, junto com as galinhas e começou a alimentá-lo com milho e ração própria para galinhas
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista que lhe disse:
- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De fato – disse o camponês. É uma águia. Mas eu o criei como galinha portanto ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não – retrucou o naturalista. Ela é e sempre será uma águia, pois tem coração de águia e este coração, uma dia, a fará voar às alturas.
- Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia, que olhava distraidamente ao redor, viu as galinhas lá embaixo ciscando e pulou para junto delas. Observou o camponês:
- Eu não disse? Ela virou uma simples galinha!
- Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa e sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas de novo a águia se juntou às galinhas, que ciscavam no chão.
Sem desistir, o naturalista convocou o camponês para levarem a águia para fora da cidade e bem longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. Então, enquanto o sol nascia dourando os picos das montanhas, ele ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem se encher da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou e ergueu-se, soberana sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto, até confundir-se com o azul do firmamento.
Então,James Aggrey finalizou:
- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.
Infelizmente, Aggrey não pôde ver a libertação de seu povo. Ele morreu em 1927, enquanto a libertação veio com Kawame N’Krumah, apenas uma geração após. Mas com essa história, ele semeou sonhos.
Na realidade, com essa história que representa uma poderosa metáfora da existência humana, Aggrey evocou as dimensões mais profundas do espírito, indispensáveis para o processo de realização e personalização pelo qual todo o ser humano passa: o sentimento de autoestima, a capacidade de dar a volta por cima nas dificuldades quase insuperáveis e a criatividade diante de situações de opressão coletiva que ameaçam o horizonte da esperança.
A galinha, expressa a situação humana no seu cotidiano, no círculo da vida privada, nos afazeres domésticos, nos hábitos e tradições culturais, na dimensão inevitável de limitações e de sombras que marcam a vida. A águia, por sua vez, representa a mesma vida humana em sua criatividade, em sua capacidade de romper barreiras, em seus sonhos, em sua luz, ou seja, em sua transcendência.
Ambas se complementam e traduzem o dinamismo humano. Dualidades que estão presentes para onde olharmos, revestidas de muitos nomes: realidade e sonho, necessidade e desejo, história e utopia, fato e ideia, corpo e alma, religião e fé, caos e cosmos, ética e moral, e tantos outros. Todas, dois lados do mesmo corpo e dimensões da mesma e única realidade complexa, porque nada é somente o uno e nada é somente o verso, tudo e universo, unidade dimanica e energia cósmica.
Caso você queira extrair dessa história todas as suas nuances, recomendo a leitura do livro “A ÁGUIA E A GALINHA – UMA METÁFORA DA CONDIÇÃO HUMANA”, de Leonardo Boff. Espero que tenha gostado.
Ambas se complementam e traduzem o dinamismo humano. Dualidades que estão presentes para onde olharmos, revestidas de muitos nomes: realidade e sonho, necessidade e desejo, história e utopia, fato e ideia, corpo e alma, religião e fé, caos e cosmos, ética e moral, e tantos outros. Todas, dois lados do mesmo corpo e dimensões da mesma e única realidade complexa, porque nada é somente o uno e nada é somente o verso, tudo e universo, unidade dimanica e energia cósmica.
Caso você queira extrair dessa história todas as suas nuances, recomendo a leitura do livro “A ÁGUIA E A GALINHA – UMA METÁFORA DA CONDIÇÃO HUMANA”, de Leonardo Boff. Espero que tenha gostado.
4 comentários
Linda lição. Em cada um de nós existe a águia. Resta acreditar na possibilidade do improvável.Gostei muito, aguardo a próxima.
Linda esta história 😘😘
Excelente reflexão. Eu sou uma águia!!!!
Apaixonei por este livro, de leonardo Boff,li em 2012. como fala da horigem da historia de James Aggrey , resolvi pesquisar. Linda fábula. Vamos ser mais águia....
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