quarta-feira, 19 de julho de 2017

A ARTE DE ENVELHECER


                              ESCRITO POR ANNATROTTAYARYD

                    Hoje em dia, as pessoas se recusam a ser chamadas de “velhas”. Aceitam, quando muito, ser “idosas”. Em algum momento em que não nos demos conta, roubaram a velhice, e a juventude passou a ser a vida inteira.
                    Uma pena! Porque nada deveria ser mais esperado do que a velhice, já que ela é o preço justo que todos nós temos que pagar, se quisermos continuar vivos.      
                     Mas não é o que acontece. Muito pelo contrário, ao nos aproximarmos da velhice, começamos a lamentar e a resistir a ela, como se envelhecer não fosse fato da natureza e do tempo.
                              Não estou dizendo, com isso, que envelhecer seja fácil. Longe disso. A questão é que o nosso medo da velhice e da morte é tão grande, que ao menor sinal de que não somos mais tão jovens, preferimos parar no tempo e paralisar nossos rostos - deixando-os sem qualquer expressão, a ponto de nos tornarmos tipos estranhos - a ter qualquer sinal que indique a passagem do tempo e da vida vivida, como se o tempo passado fosse apenas feio e tão sem significado, que pudesse se tornar inexistente.
                              E, assustados e paralisados, seguimos insistindo em encarar a velhice como algo que pertence apenas ao outro.
                              Ocorre que negar a velhice, é não só inútil, como uma escolha que nos rouba algo de vital e essencial, que é justamente pensarmos sobre ela, e assim, podermos nos preparar para ela.
                              Velhice é o que é, para cada um e para todos também. E se é que existe algo de bom no envelhecimento, esse algo, com certeza é o “espírito de velho”, porque esse é grande, vem com toda a trajetória, é cumulativo e o único que não declina. E se bem lapidado, certamente é o que nos permitirá chegarmos ao fim, muito mais bonitos e interessantes do que éramos no começo e no meio.
                              Mas para isso, é preciso coragem para encararmos a nós mesmos, antes de envelhecer, para ver quem somos e no que nos tornamos, e tentarmos nos transformar em pessoas ainda melhores.
                              Há muito tempo, uma amiga me disse que todos nós deveríamos nos preparar para o envelhecimento, agregando à nossa vida todas as atividades que pretendemos manter na velhice, antes de envelhecer, porque velhos, só conseguimos fazer menos do que já fazíamos. Além disso, deveríamos também pensar antes, em quem queremos ser quando envelhecermos, porque, como ela me explicou, velho não muda, só piora.                 
                              Naquela época, ainda era bastante jovem e nunca tinha parado para pensar sobre isso, mas não tive dúvidas de que ela estava coberta de razão, e decidi guardar aquela lição, porque tive a certeza que, um dia, ela me serviria. Já há algum tempo, venho agregando atividades na minha vida - escrever é uma delas. E hoje, à beira dos cinquenta, ou na juventude da velhice - como bem definiu outra amiga, dia desses - decidi começar a pensar em quem, afinal, eu quero ser, quando envelhecer.
                              Confesso que já pensei e refleti bastante, mas até agora só consegui concluir que, com toda certeza, quando envelhecer quero ser leve. Não daquelas velhas obcecadas por dietas. Nada disso. Leve, como aquelas pessoas que vivem a vida com menos peso na alma, menos tralhas na bagagem, menos aspereza nas palavras e nos gestos, menos consumismo e pressa.
                              E como tenho plena consciência que, para ser leve nessa vida, é preciso fazer um trabalho de peso, decidi escrever a minha lição de casa para ir treinando e assim, quem sabe, poder chegar ao fim na melhor versão de mim mesma, e quem sabe, poder fazer do meu terceiro ato, um grand finale.
                              Claro que ela ainda não está terminada. Esse é só o primeiro rascunho, que pretendo ir implementando com o tempo e a experiência, mas é um começo, que deixo aqui registrado para compartilhar com aqueles que tiverem interesse, e para não me esquecer.
A arte de envelhecer leve. Para treinar e praticar.
 
1- LIVRE-SE DOS SEUS PRECONCEITOS.

2- Tenha menos coisas. Como dizia Buda, “quanto mais coisas você tem, mais terá com o que se preocupar”. Quanto menos coisas você tiver, mais espaço na sua vida você terá para viver com serenidade, ser feliz e afastar-se de sentimentos como falta, angústia e ansiedade.  Menos é mais.
3 – Ao invés de juntar dinheiro para ter coisas, junte dinheiro para fazer coisas. Coisas são só coisas. Por isso ame mais as pessoas e use as coisas, porque o oposto não funciona.
4 – Sorria e tenha sempre um tempo para aqueles que te fazem bem e para quem te faz rir. Rir das próprias desgraças com certeza deixa a vida mais leve e dá mais resultado que botox. Otimismo e senso de humor são coisas que a gente aprende e treina.
5 - Não leve a vida muito a sério. Você não precisa estar sempre certa, muito menos está obrigada a ter certeza de tudo.
6 – Não reclame por hábito. Elogie sempre que tiver vontade. Pense duas vezes antes de criticar. Doe aos outros aquilo que você tem de melhor, e assim você despertará o que há de melhor em você.
7- Seja gentil, educada e generosa. Agradeça sempre. Faça do seu cotidiano um exercício de delicadeza e respeito.
8- Não há jeito de morrer sem marcas, porque não há como viver sem ser marcado pela vida. Por isso relaxe e não se incomode tanto com as marcas do tempo. Elas são a prova de que você continua viva.
9 – Pense menos. Evite pensamentos incômodos e dispensáveis, que não te levarão a lugar algum e não fazem bem. Condicione-se para funcionar a seu favor, cultivando pensamentos positivos.
10 - Livre-se das cracas grudadas em sua alma e alargue seu espírito com a experiência. Fique menos vaidosa e mais divertida. Descubra qual é a sua medida e quais são os seus limites nessa nova configuração e reinvente-se até o fim.
11 - Viaje, passeie, converse, faça ginástica. Dance. Cante. Ria alto. A vida existe em movimento.

                              Por enquanto é isso. Não tenho dúvidas de que envelhecer é um grande privilégio.  E como bem disse Henri Amiel: “Saber envelhecer é a obra-prima da sabedoria e uma das mais difíceis tarefas na grande arte de viver.” Mas como não existe nenhuma lei que nos obrigue a viver da mesma maneira, e principalmente porque o que é bom para mim, pode ser péssimo para outros, me conte aí: 
                      - E você, já pensou em quem você quer ser, quando envelhecer?

 

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