segunda-feira, 28 de outubro de 2013

VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DO MACACO?

            Ainda bem, na vida, todo mundo tem lá os seus mestres. Aquelas pessoas inesquecíveis e extraordinárias que te fazem bem, dizem a coisa certa na hora certa e servem de grande exemplo e fonte de inspiração, sabe? Pois é. Eu tive a sorte de ter vários, e foi exatamente um deles quem me contou essa história.
            Nós trabalhávamos juntos e eu sempre o importunava. Entrava em sua sala e ia logo perguntado: - Ocupado? Ao que ele sempre me respondia, com aquele jeito introspectivo e sério: - Tanto quanto você.
            Achava aquela resposta simplesmente o máximo, digna dos grandes sábios, e sempre me deliciava. Então ele imediatamente parava o que estivesse fazendo para me ouvir e eu ganhava o dia, me sentindo a importante. Jamais me esquecerei.
            Mas voltando à história do macaco, foi num desses dias, quando eu cheguei meio esbaforida e completamente pessimista com alguma coisa que não lembro bem o que era, que de repente ele me perguntou:
- Anna, você já ouviu a história do macaco?
            MA-CA-CO?! Pensei com meus botões. Até hoje fico imaginando a minha cara. Mas vindo de quem vinha me limitei a responder:
-Não.
- Então sente-se, disse ele. E começou:
            Certo dia, João, que morava em um sítio distante da cidade, saiu com seu carro para ir comprar mantimentos no centro. Quando já estava no meio do caminho, em plena estrada de terra, percebeu que o pneu do carro havia furado. Saiu do carro, abriu o porta-malas para pegar o macaco para poder trocar o pneu, e nada. Estava sem ele.
            Ah! É esse macaco, pensei novamente com meus botões.
            João olhou para um lado, olhou para o outro e nada. Nenhum sinal de vida. Resolveu sentar no acostamento e esperar um pouco para ver se aparecia uma boa alma, mas nada. Ninguém apareceu.
            Então, levantou-se e olhando ao redor, lá longe, bem distante, viu uma fumacinha e, como onde há fumaça há fogo e onde há fogo, geralmente há gente, resolveu caminhar naquela direção.
            Andou, andou e andou. E já estava bem suado quando percebeu que aquela era a casa do Paulão, um chato de plantão, mal humorado, que conhecia só de vista, porque o infeliz não cumprimentava, muito menos conversava com ninguém. Com tal constatação, não pode deixar de exclamar:
- PQP!!! Que azar. Justo esse chato?! Só me faltava essa.
            Que Paulão tinha carro e consequentemente macaco, disso ele tinha certeza, mas aquele grosso era bem capaz de não querer emprestar o macaco.
- E se eu pedir o macaco e ele me disser que não tem? Afinal, chato que é chato não ajuda, só atrapalha. Mas que ele tem macaco, ele tem.
            E enquanto andava pensava e enquanto pensava andava e falava consigo mesmo:
 - Tudo bem. Eu chego lá, peço o macaco e digo que depois eu devolvo. Ele não tem motivo para não me emprestar. Mas do jeito que ele é, é bem capaz de fechar a porta na minha cara. Ah, se o Paulão fizer isso!!! Era só o que me faltava, andar tudo isso para nada. Tudo bem, vou pedir o macaco na maior educação e não vai ter erro. Será?
             E quanto mais perto da casa de Paulão chegava, mais agitado e nervoso ficava:
- Se esse cara não quiser me emprestar o macaco ele vai ver só. Chato tudo bem, eu já sei que ele é, mas não me emprestar o macaco já é demais. Um egoísta esse Paulão, isso sim. Babaca! Se ele não quiser me emprestar, pego o macaco na força. Mas e eu lá sei onde ele guarda o macaco?!
            Andou mais um pouco, pensou e esbravejou bastante até que finalmente chegou na casa do Paulão. Encheu-se de coragem, bateu na porta e quando Paulão atendeu, foi logo dizendo:
- Paulão, é o seguinte, enfia o macaco no #&. Virou as costas e foi embora.
            Nem preciso dizer que caí na risada e demos boas gargalhadas. Quando voltei para minha sala, fiquei pensando quantas vezes e com quantos “Paulões” já tinha feito exatamente isso, e para minha tristeza, pude concluir que com vários. Bem mais do que gostaria. Acho que até mesmo com o meu marido!!!
            Tudo bem que de lá para cá continuo ouvindo não das pessoas, mas posso garantir que agora eu realmente pergunto antes.
            Bem, nem preciso falar que todo mundo na minha casa já conhece a história do macaco, e vira e mexe a gente se lembra, em alguma história ou assunto:
- Olha o macaco!!!!
            Figuraça esse meu mestre, né?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

QUER MELHORAR O MUNDO? EDUQUE AS MENINAS



     Esse é o mantra pronunciado pelo antropólogo e jornalista americano, Justin Reeves, 33 anos, produtor de Girl Rising, documentário lançado esse ano, com direito a tapete vermelho, que chegará ao Brasil em DVD, em 2014, que deveria ser repetido por todos nós.
     Há dez anos trabalhando no Equador, Chile e na Argentina com iniciativas de combate à AIDS, Justin percebeu que mulheres que recebem educação mudam a comunidade, e se entregou ao projeto. Depois de percorrer vários países pobres ou em desenvolvimento onde vivem as nove garotas desse documentário poético, Justin concluiu que "As meninas do mundo inteiro têm sonhos parecidos, querem ir para a escola. E, quando não vão, ficam sujeitas ao sexo sem proteção, casamento precoce, tráfico humano e à violência. Se estudam, podem quebrar um ciclo de pobreza. Quando o número de alunas cresce em 10%, o PIB do país delas sobe cerca de 3%. Profissionalizadas, elas casam mais tarde, cuidam melhor da saúde e da instrução dos filhos.
   As nove meninas extraordinárias do filme vivem no Camboja, Nepal, Índia, Egito, Peru, Haiti, Serra Leoa, Etiópia e Afeganistão, e enfrentam implacáveis circunstâncias para conseguir acesso à educação. Duas dessas histórias são de crianças beneficiadas por projetos da Visão Mundial: Ruksana (Índia) e Azmera (Etiópia).
   Dirigido pelo indicado ao Oscar, Richard Robbins, e produzido pela aclamada produtora Martha Adams, o documentário conta as histórias dessas nove mulheres, escritas por nove roteiristas célebres do próprio país, e narrado por nove atrizes de renome, dentre elas Meryl Streep, Anne Hathaway, Kerry Washington, Selena Gomez e Cate Blanchett.
   Wadley, do Haiti, aparenta ter 7 anos e se vê impedida pela professora de assistir às aulas porque a mãe não pôde mais pagar a mensalidade depois do terremoto que matou 316 mil pessoas e desorganizou o país, em 2010. Wadley enfrenta a mestra. A peruana Senna, louca para virar escritora, trabalha duro, já que o pai se acidentou numa mina. Justin viveu dias na casa insalubre da família dela, a 5 mil metros de altura, vendo que o frio terrível não roubava a energia de Senna,que lê até no escuro. Ele ainda conheceu Yasmin – detida no Egito por ferir com faca um carroceiro sedento por estuprá-la – e Suma, do Nepal. Vendida pelos pais como escrava doméstica aos 8 anos, Suma foi alfabetizada na adolescência. Liberta, sai de bicicleta resgatando meninas aprisionadas na cozinha pelos patrões.
   Na Índia, a história de Ruksana foi contada pela célebre roteirista Sooni Taraporevala. Seu trabalho anterior inclui o roteiro do filme indicado ao Oscar, Salaam Bombay. Em Girl Rising, Sooni conta a história de Ruksana, uma menina de 11 anos, indiana, que vive nas ruas de Calcutá. Ela vive na calçada com sua família, na mesma rua e calçada em que sua mãe nasceu e foi criada, e passa a noite em um abrigo. Sua família é muito amorosa e lhe dá muito apoio. "São apenas as circunstâncias físicas em que ela vive que são difíceis," conta a roteirista. A “casa” deles fica contra a parede de uma instituição. Eles têm uma espécie de lona que forma o telhado, e tudo fica nesse espaço. Muito embora o pai de Ruksana trabalhe em dois empregos e sua mãe seja cozinheira, eles não conseguem encontrar qualquer tipo de habitação razoável para morar, e estão sob a constante ameaça de demolição, porque o governo realiza frequentemente ações de demolição para limpar as calçadas. Ruksana raramente perde um dia de escola. Ela tem um entusiasmo muito grande com a escola, e seus pais zelam muito para que seus filhos sejam bem-educados.
   Talentosas e surpreendentes, as protagonistas emocionam pela resiliência, esperança e a beleza com que olham para a vida.
    Apaixonante e emocionante, Girl Rising é uma ação de destaque na Campanha 10x10, um movimento global, em parceria com a Visão Mundial, para promover a educação de meninas em países em desenvolvimento. Um filme que mostra de forma sensível e profunda a força do espírito humano e como o poder da educação pode mudar uma menina, transformar vidas e melhorar o mundo.
   Milhões de meninas enfrentam barreiras que os meninos não precisam enfrentar para estudar. Infelizmente, ainda hoje 66 milhões de garotas permanecem sem acesso à educação. Nós podemos ajudar a quebrar essas barreiras, chamando a atenção mundial para os benefícios da educação de meninas e a sua comunidade pode ser um ótimo lugar para começar.
   Que tal começar divulgando o máximo que puder? Juntos, certamente poderemos construir um mundo melhor.
        Esse post é uma singela homenagem a Malala Yousafzai, a paquistanesa que desafiou os talibãs e foi baleada na cabeça aos 15 anos por defender a educação feminina. Recentemente premiada com o respeitado Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, do Parlamento europeu, é uma das mais cotadas para ser laureada com o Nobel da Paz. Estou torcendo por você!!!
               Para mais detalhes sobre o filme, acesse: girlrising.com

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

AS VÁRIAS VERSÕES DOS CONTOS DE FADAS

             Você sabia que nem sempre os contos de fadas foram recheados de magia e encantamento? Isso mesmo. Nas versões originais, muitos deles pareciam mais histórias de terror, dignas de pesadelos. João e Maria, por exemplo, além de serem abandonados pelos pais por falta de condições para criá-los, passaram fome e tiveram os olhos devorados pelos animais da floresta. Em, A Bela Adormecida, a linda e vulnerável princesa foi estuprada pelo príncipe e gerou o filho enquanto dormia. Já a doce Chapeuzinho Vermelho, depois de comer a carne da própria avó, foi abusada e devorada pelo lobo, sem nenhum caçador para salvá-la. E a Branca de Neve, tão linda, depois de ser feita de empregada pelos anões, resolveu se vingar da madrasta obrigando-a a vestir sapatos de ferro quente e dançar até a morte.
            Tudo bem que havia uma boa intenção por trás dessas histórias macabras, já que a finalidade dos contos, em geral contados de pais para filhos, era justamente fazer com que os pequenos camponeses tomassem cuidado e ficassem alerta, por isso costumavam abordar temas nada nobres como morte, fome, abandono, vingança, tortura, abuso sexual e tantas outras preocupações da vida cotidiana. Mas cá entre nós, isso estava mais para terapia de choque. Credo! Dá até para imaginar aquelas pobres crianças, semanas sem dormir.
            Ainda bem, na Idade Média, quando a sociedade  iniciou a distinção entre crianças e adultos, isso mudou e os contos de fadas tiveram seus enredos abrandados, muitos adquirindo as versões que conhecemos até hoje, bem mais simpáticas.
            O primeiro a estabelecer bases para esse novo gênero literário de cunho popular, contos de fadas, foi o francês Charles Perrault, que deu vida à Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida, Cinderela, Pequeno Polegar e o Gato de Botas, dentre outros. Inclusive, foi graças a ele, por conta de um erro de tradução, que nossa Cinderela – que usava sapatos de pele (vair) - passou a usar sapatos de cristal (verre).
            No século seguinte, os famosos irmãos Grimm e o dinamarquês Hans Christian Andersen deram seguimento nessa linha literária e a incrementaram os contos, criando as famosas “morais de história”. E de lá para cá, muita água rolou e muitas versões surgiram, proporcionalmente às mudanças sociais e culturais de cada época.
            Recentemente muitas releituras dos contos de fadas, altamente tecnológicas e cheias de efeitos especiais, foram  lançadas nos cinemas, e para quem ainda não viu, vale a pena conferir.
             Dessa vez, João e Maria depois de serem abandonados pelos pais na sombria floresta e ficarem sob os cuidados da malvada bruxa da casa de doces, crescem, matam a bruxa e se tornam exterminadores de criaturas do mal, com um detalhe, João, como tantos hoje em dia, de tanto comer doces acabou diabético e tem que tomar insulina, com uma injeção da idade das pedras que é de arrepiar os cabelos!!
 Em Branca de Neve e o Caçador, o rei literalmente morre de amores por Ravenna -  a ma-ra-vi-lho-sa bruxa - e deixa para ela todo o reino. Branca de Neve é jogada em uma masmorra, onde fica até se tornar uma bela jovem, enquanto a rainha, obcecada pela beleza, e mais ainda pela juventude, precisa do coração das jovens do reino para se manter sempre jovem. Branca de Neve consegue fugir sem que seu coração seja arrancado, mas a malvada não desiste e, além de contar com a ajuda do seu irmão – com quem mantém um relacionamento bem estranho – contrata Eri, o exímio caçador, para trazer sua presa de volta. O caçador, que no final da história é o príncipe, resolve ajudar a jovem  Branca de Neve em sua cruzada contra o reinado da malévola, e esta morre de velha e bem feia.
            João e o Pé de Feijão, na versão moderna passou a se chamar Jack e o Caçador de Gigantes.
            E já se tem notícia de que uma nova versão da história da Bela Adormecida está saíndo do forno, com estréia prevista para março de 2014, contada do ponto de vista da vilã, Malévola, interpretada por Angelina Jolie.

             Agora, sobre os tais “finais felizes”, a fotografa canadense Dina Goldstein fez um set de fotos bem interessante denominado “Fallen Princess”, que mostra o que aconteceu com as princesas, na vida como ela é, depois do “felizes para sempre”. E de quebra, aproveitou para tratar de assuntos da atualidade que estão a merecer atenção como poluição, câncer, guerra, abandono e até obesidade.
  
Se quiser ver todas as fotos, é só acessar: http//dinagoldstein.com/

            E pensando bem, que bom que a vida real é diferente dos contos de fadas. Tudo bem que os contos são lindos e terminam sempre com um final feliz, mas todos, impreterivelmente, terminam ao final de no máximo dez páginas, enquanto nossas vidas não.
            Ainda bem, nós somos coleções de muitos volumes, o que nos permite,  mesmo depois de um episódio horrível e desastroso, ter a possibilidade de ter outro, depois outro e mais outro episódio à nossa espera, o que é simplesmente maravilhoso, porque sempre teremos a chance de acertar e fazer da nossa vida o que queremos que ela seja.
            Por isso, não tenha inveja das princesas e nem perca seu tempo almejando os contos de fadas. Lembre-se que a vida é bela, que o fracasso é um mestre mais eficaz do que o sucesso e siga sempre em frente, em busca do SEU FINAL FELIZ.
            Agora para terminar, deixo aqui registrada a versão atualíssima   do conto  “A Princesa e o sapo”, que eu adoro contar para os meus filhos para me lembrar que os tempos mudaram. E eu preciso me lembrar, porque vou ser sogra de duas, vocês sabem o que é isso?!  Então ai vai, por Luis Fernando Veríssimo:
“Era uma vez...numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...Então, a rã pulou para o eu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito, Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformou-se nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, já de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo, A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias prepara o meu jantar, lavar as minhas roupas, crias os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimovinho branco, a princesa sorria pensando consigo mesma:
-Eu hein?...nem morta!”
                                                           FIM